SonhonIndia2 - Boletim 1 - Puttaparthi/ Prashanti Nilayan
Queridos Pustas Amigos
Cá estamos no sul da Índia, na cidade de Puttaparthi,
onde se localiza Prashant Nilayan, o ashram de Sathya Sai Baba, o avatar vivo do século XX
Hoje, envio apenas um email para saberem que chego bem
e que me instalo no ashram,
particularmente para minha mãe ficar mais tranquila.
Portanto, Adilsão, irmão véio, fala pra véinha que estou inteiro.
Para chegar aqui foram vinte horas de avião e mais
vinte e sete horas de ônibus.
De forma precisa, saí às dezesseis horas do dia
vinte e sete de novembro de São Paulo e chego aqui às dezesseis horas do dia
trinta.
Oito fusos na cabeça.
Dá pra ficar confusssso!!!
O ashram
é uma verdadeira cidade e o ritmo diário é semipunk.
Espero conseguir ritmo para encarar a rotina
diária.
Num próximo email detalho mais sobre o que estou
falando.
No mais agradeço demais as mensagens.
Em breve escrevo
BEIJO NOS CORAÇÕES
SORTE!!!
AMiLTON
SonhonIndia2 - Boletim 2 - Puttaparthi/ Prashanti
Nilayan
Queridos Pustas Amigos
Bom poder falar com todos vocês de um lugar tão
especial!!!
Agora mais estabilizado, depois de sincronizados os
fusos e assentadas às quarenta e oito horas de voos, esperas em aeroportos (não
havia falado, mas foram seis horas!) e ônibus sacolejantes, seguem
as quentinhas da terra mais sagrada do Planeta Terra, diretamente das
proximidades do ashram do avatar vivo
da Índia, Sathya Sai Baba.
Prashant Nilayan é um ashram que cobre uma área equivalente a dos campi universitários no Brasil, capaz de acomodar e alimentar dez mil pessoas por valores irrisórios. O mandir é o templo principal do ashram, um salão com capacidade para acomodar todas estas pessoas durante as cerimonias que contam com a presença de Sathya Sai.
A rotina em Prashant
se organiza em torno das duas cerimônias diárias que acontecem com a presença
de Sai Baba.
Vou contar minha rotina diária.
Acordo às quatro da manhã e sigo rumo ao mandir, templo principal para onde Sai Baba se dirige diariamente, onde na
frente formam-se filas em que as pessoas aguardam sentado o horário da
abertura.
Aguardo, diariamente, mais ou menos quarenta
minutos até o momento em que as filas são sorteadas e, então, por ordem as
pessoas começam a entrar.
Enquanto estou ali sentado, ouço ao longe as vozes
vindas do grupo de homens que começa a jornada de circundar o mandir cantando com muita vibração
canções védicas.
Quando os homens chegam é a hora do grupo feminino
cumprir o mesmo trajeto, só que ao som de canções alegres e extremamente
femininas.
Ao entrar no mandir,
as pessoas buscam se sentar o mais próximo possível da pista por onde Baba passa todos os dias por volta de
nove da manhã, porém há dias em que o guruji
não dá o ar da graça, o que deixa um
ar de incerteza se naquele dia, depois de tanta espera e esforço, ele virá.
Hoje minha fila é sorteada a primeira a entrar e
isto me deu o direito de ficar de frente da pista.
Depois de entrar, aguardo por mais de cinco horas,
sentado, junto a mais dez mil pessoas. O que fazer durante este tempo? Por que
não meditar, entonar mantras e pensar
na Vida...
Talvez sejam boas alternativa frente aos atuais super pensamentos que povoam nossas mentes
ocidentais...
Depois de meia hora que estou ali, o enorme salão é
rompido pelo som das vozes do grupo de sacerdotes brâmanes do mandir entoando em voz alta os Cento e oito nomes de Deus, textos
védicos, os mais antigos do Planeta.
Arrepiante!!!
Arrepios ancestrais...
Em seguida, inicia-se o OMkar, que é a entonação coletiva do OM vinte uma vezes pelas duas
mil vozes que adentraram o salão até àquela hora da madrugada.
Anciãos entoando mantras ancestrais, vozes
masculinos e femininos celebrando as polaridades do Universo, a diversidade das
vozes no coro humano vivenciando a Unidade.
Tudo chegando com a alvorada.
Emoção...
Por volta das nove da manhã, Baba entra lentamente no salão em seu carro elétrico (desde a
fratura da bacia, Baba não cruza o salão
a pé), e aí se presencia uma demonstração coletiva de devoção indescritível
para um ocidental.
É gente vinda de toda a Índia e do mundo todo
reconhecendo ali a presença Divina mais Pura em forma humana, o avatar.
Pode parecer de gosto duvidoso para alguns
ocidentais, e até piegas, tanto esforço para se observar apenas por alguns
instantes a passagem de um homem, mas este valor é bem diferente para um povo
que reconhece os santos ainda em vida, e não apenas depois de já terem morrido.
Depois de passar colhendo e distribuindo olhares
penetrantes, além de recolher a carta de uns poucos escolhidos entre aquelas
dez mil almas, Baba se senta em uma
cadeira que lembra um trono em um enorme altar e é quando, então, começam as
canções dos bajas, canções em
homenagem ao avatar vivo.
Para os indianos não há melhor forma de se
aproximar da divindade do que cantando e dançando em sua celebração.
Depois de aproximadamente meia hora de bajas, Sathya Sai Baba se dirige a uma sala anexa onde concede entrevista
a uns raros merecedores.
Por volta das nove e meia, termina a cerimonia e a
multidão lenta e calmamente se retira do salão emanando a tranquilidade deixada
pela presença da Divindade.
Então, é hora de tomar um banho, dar uma boa
descansada e me dirigir para um dos três restaurantes do ashram, um de comida ocidental, outro de comida indiana e um
terceiro de comida do sul do país, onde a comida é apimentadíssima e onde se
come com as mãos.
Depois, é aguardar todo o mesmo ritual
que recomeça às quinze horas e vai até dezoito horas.
Então, é jantar às dezenove horas e estar na cama
às vinte e uma para, então, às quatro da manhã tudo recomeçar.
Detalhe: neste universo
paralelo não existem sábados, domingos ou feriados...
Dá para imaginar dez mil pessoas em plena quarta
feira (ou segunda ou sexta...) parando o seu dia por cinco horas para se
remeter ao Divino?
E como ficam a Bolsa
de Nova Iorque, o petróleo ou o Bin Laden???
Não sei, mas por aqui ficam... e ficam...hehehe
Em verdade, minha rotina gira em torno destas duas
cerimonias, já que meus planos iniciais de trabalhar como voluntário não
deram certo. Disseram-me que posso ajudar na preparação das festividades de
Natal que acontecerão em Prashant.
Alguns dias, saio do ashram para andar pelas ruas do povoado de Puttaparti, onde ando,
passo e-mails e onde puder descobrir o excelente livro Jesus viveu na Índia.
Para quem não sabe, há uma corrente esotérica
bastante forte que crê que JC viveu dos treze aos trinta anos na Índia
estudando o budismo, e ali se torna o Mestre que conhecemos.
O mais surpreendente é a crença de que, depois da
ressurreição, JC volta para a Índia, onde constitui família e vive até sua
morte.
Se quiser mais detalhe pergunte a um Rosacruz. Há
um livro editado pela Ordem Rosacruz chamado A vida mística de Jesus que trata do assunto.
Eu rrrecomendo!
Bem, a novidade é que, depois do dia dez, vou fazer
uma viagem pelo sul da Índia por um roteiro entre templos, cavernas sagradas e praias,
inclusive algumas que foram assoladas pelo grande tsunami de 2004! UGA!!!
Este giro deve durar uns dez dias e depois volto
para as comemorações de Natal em Prashant,
onde fico a última semana para fechar a viagem com chave de ouro.
Aliás, este roteiro de viagem chega de presente pelas
mãos de uma simpática indiana que se senta ao meu lado no avião que me traz do
Brasil.
O detalhe é que me sento ao seu lado após uma
mudança de assento porque meu banco original não reclina.
O Universo e suas brincadeirinhas... hehehe
É isso aí, meus irmãozinhos.
Vibro por vocês todos os dias e procuro responder
os emails individualmente, na medida do possível, e não de forma coletiva como
foi na última viagem.
Tem chegado mensagens muito legais que merecem um
aprofundamento maior.
No mais, sigo com vocês no meu coração, o que pra
mim é um privilegio.
BEIJO NO CORACAO!!!
OM SAI RAM!!!
SORTE!!!
AMiLTON
Obs.: As fotos de Sathya Sai Baba foram extraídas na internet em virtude da proibição de se fotografar dentro do ashram
SonhonIndia2 -Boletim 3 - Mamallapuran
Queridos Mestres Pustas Amigos
O barco segue e retornar é impossível.
Parece até a vida... e será que não é?!
No último dia dez, me despeço temporariamente de Prashant Nilayan e sigo viagem em um
roteiro por templos, cavernas sagradas e praias na costa da Baia de Bengala,
aquela a leste da Índia que é visitada pelo tsunami
de 2004.
Pego um ônibus em Puttaparti, às sete da noite do
dia dez, e desço doze horas depois na gigante cidade de Chennai, famosa por ser
o centro tecnológico da Índia, o Vale do
Silício dos indianos.
Como a estrada me ensina a sempre ouvir bons
conselhos, vou dando ouvidos a uma inglesa mochileira de 70 anos que no ano
passado, ao se referir à Índia, enfatiza: ‘Na Índia, evite as grandes cidades’.
E assim eu faço.
Logo que chego, espero por meia hora e pego um
ônibus tipo jardineira, estes que não têm janelas, e vou logo me dirigindo para
a primeira cidade litorânea do roteiro: Mamallapuhan.
É uma viagem inusitada e deliciosa, em um ônibus
que vai lotando pelo caminho e aonde vou me sentindo como uma sardinha na lata.
Pra imaginar, em um determinado momento, o ônibus
para em uma vila de camponeses e uma classe inteira de estudantes sobe para
descer alguns pontos depois no povoado onde fica a escola.
Quando chego ao meu destino, percebo que tudo vale
a pena, pois me deparo com um litoral magnifico que não conto encontrar nesta
viagem.
Aliás, pouco antes de sair do Brasil, falo pro meu
irmão que acho de extremo mau gosto alguém
ir para a Índia em busca de praia, principalmente um brasileiro com toda a
abundância de praias que temos. Dizia que isso era coisa de europeu.
Pois a língua é imediatamente mordida e cá estou eu
em uma praia charmosíssima que mistura um ar de Embu das Artes com Ceará e Calcutá, manja?!!!
O local é encantador e tem o que eu mais procuro:
templos e cavernas sagradas.
Para melhorar as coisas, ainda consigo uma
pousadinha a poucos metros da praia e, assim, durmo embalado pelo som do mar.
O templo principal do lugar fica à beira mar e é todo
entalhado em granito, bem ao estilo indiano antigo. É um templo em celebração a
Shiva e data do séc. VI d.C.. Lindíssimo e imponente.
Dá pra imaginar um templo a beira mar?
Na tarde do segundo dia, visito outros 10 templos e cavernas, todas escavadas e entalhadas na rocha de granito.
A milenar técnica de entalhe em rocha está viva e por onde quer que se ande, no povoado de dois mil habitantes, se ouve o som do encontro do martelo e do cinzel entalhando as maravilhosas imagens de personagens da mitologia hindu, os quais são exportadas para o mundo todo.
É uma cidade lotada de artistas que mantém uma tradição de pelo menos dois mil anos.
No final da tarde, tomo o primeiro banho de mar no
Mar de Bengala e sou obrigado a ficar
uma hora e meia dentro do mar, com direito a banho moleque, testada na areia e sair da água com os dedos
enrugados tipo maracujá de gaveta. hehehe
Faz pelo menos um ano e meio que não vou à praia, e
assim despacho as mais de setenta horas de viagem acumuladas para o mundo
de Iemanjá, Shiva e Cia. Ltda.
A praia lembra demais o Ceará, com mar verde, areia
amarela, brisa constante e muitos barcos e pescadores sentados na areia
arrumando suas redes para garantir a labuta do dia seguinte.
O que faz perceber que realmente não estou no Ceará
são os turbantes e os dots
(saias) que os pescadores usam, seu jeito de se sentar em posição de yoga e,
claro, as vaquinhas pela praia.
Ah, a presença do templo que repousa no costão rochoso
no canto da praia também ajuda a ficha cair.
No mais, de tempo em tempo me pego conferindo
o horizonte em busca de alguma onda gigante que delate um novo tsunami.
Hehehe, pura neura.
Pura diversão.
Durante as deliciosas horas que fico diante do mar,
sentado nas pedras, de costas para o templo e de frente para o mar, chegam
pensamentos que me trazem conclusões inicialmente óbvias e percebo que o mar é
um só, apesar de estar todo dividido em mares e oceanos, e o banho que tomo cá
já tomei lá.
Também percebo que o céu é também um só, apesar de
estar dividido pelos mapas estelares.
Então sinto que TUDO É UM SÓ.
Realmente.
Nossos pensamentos também são um só.
O TODO E A PARTE.
A PARTE NO TODO.
Que delicia existir!
OM SAI RAM!!!
SORTE!!!
AMIn
SonhonIndia2 -Boletim 4 - Madurai
Queridos Mestres Pustas Amigos
Cada vez mais ao sul do velho país, saímos do
litoral rumo ao interior.
Nos dois últimos dias, passo mais tempo viajando
pelas estradas do que propriamente ficando nas cidades.
Saio de Mamallapuram, há dois dias, e encaro
catorze horas de estradas em ônibus e trens desfilando por quatro cidades e dezenas
de povoados.
O sul deste país é a própria Índia, nua e crua.
Já haviam me dito que existem duas Índias: uma no
norte e outra no sul, e nestas viagens tenho constatado isso.
Enquanto o norte é onde se localizam as cidades
mais desenvolvidas e montanhas verdejantes, o sul é uma região de ambiente
predominantemente rural, camponês, com muitos rios e extensas planícies alagadas
totalmente cultivadas.
São imensas áreas alagadas ocupadas por plantações
de arroz, porém as propriedades são pequenas, bem divididas, onde se vê as
famílias cultivando. Descubro que a Índia é uma terra onde não existem
latifúndios.
São campos verdes contrastados pelos saris coloridíssimos das mulheres
camponesas que dão um charme imenso a paisagem.
Alguém já presenciou uma ventania numa plantação de
arroz?
Lembra um oceano verde... meio gelatina.
Aliás, já tive a oportunidade de dizer
quanto Amazônia e Índia têm em comum, na paisagem e na fisionomia das
pessoas, e esta impressão só se confirma ao ver e sentir este sul na veia.
O povo do sul tem uma coloração negra, tipo
azeitonado, diferente das pessoas do norte, e isto também lembra a cor dos
amazônicos.
É um povo de traços fortes, expressões marcantes, sorriso
fácil, pessoas sempre muito simples, simpáticas e alegres.
Bem Amazônia...
Tudo que estes pequenos agricultores cultivam acaba
comercializado nas ruas das cidades, ou dos povoados.
As ruas das cidades indianas são sempre muito intensas
e vibrantes porque tudo acontece nelas. Não é no varejão, nem no supermercado, é
na rua mesmo.
As pessoas não vendem suas produções aos grandes
mercados ou Ceasas, mas elas próprias vendem o produto de seu trabalho nas
ruas, que são verdadeiras feiras ao ar livre. Então, por onde se anda, é um
mundo de frutas e comidas sendo vendido por todo tipo de gente.
Fome? Miséria? Confesso, depois de quase quatro mil
quilômetros acumulados nestas duas viagens, ainda não encontrei estas senhoras.
Para não ser injusto, pude ver cenas de miséria nas
periferia de Mumbai, debaixo de seus viadutos, em suas favelas, rodoviárias, estações
de ônibus e, claro, nos principais pontos turísticos, igualzinho ao
Brasil, onde também só é possível encontrá-la nas grandes cidades.
Ou será que alguém já se deparou com miséria fora
das grandes cidades? Já viu miséria no interior de MG, GO ou de SP?
(me refiro a miséria, não a pobreza)
Eu passei por quase todos os estados
do nordeste e norte, vivi um ano na Amazônia e nunca encontrei miséria
nestes lugares, a não ser em Manaus, Recife e em outras capitais.
Vi povos vivendo com simplicidade, sobrevivendo com
o mínimo, mas, sinceramente, miséria não vi.
Igualzinho é a Índia. Aqui todo mundo come bem,
mesmo porque o sentimento de ajuda mútua é bastante desenvolvido. As frutas que
se perderão no final das feiras são distribuídas pelos comerciantes.
Na segunda classe dos trens, boa parte dos
passageiros contribuem com moedas aos portadores de necessidades especiais e aos
velhos que entram nos trens nas paradas nas estações.
A sensação de miséria que alguns turistas descrevem
é bastante virtual, acredite.
Esta sensação é naturalmente mais forte aos olhos
do turista que chega com um padrão mental forjado na zona sul das cidades brasileiras, na classe média dos shoppings, e
que está despreparado para perceber um padrão diferente do seu, um padrão
desapegado do excesso.
Leio certa vez que se meus óculos são de lentes
vermelhas, o mundo todo será vermelho.
Quem tiver uma opinião em contrário, favor se
manifestar.
Também pelo sul vivencio uma tolerância e
diversidade religiosa fascinantes.
São várias as cidades, onde grande parcela da
população é formada por cristãos, hindus e muçulmanos.
Tenho passado por dezenas de igrejas, imagens de
Jesus e Maria, escolas com nome Sagrado
Coração de Jesus, frases da Bíblia escritas em língua indiana nos muros ou colantes
de só Jesus salva nos vidros traseiros
dos ônibus.
Em outras cidades, mesquitas e mulheres de burka são parte da paisagem destoando
com o colorido das roupas das mulheres hindus.
Faz três dias que acordo às seis da manhã com o
chamado das mesquitas para a oração. Esta noite vai ser igual, pois meu hotel
se localiza entre duas mesquitas.
Um grande barato esta convivência fraterna.
Outra delicia que tenho encontrado pelos meus
caminhos são enormes quantidades de flores de lótus brotadas na áreas alagadas
e nos brejos dos campos.
É, sem duvida, a flor mais sedutora que existe, e
não é por menos que embalou e embala o imaginário de egípcios e indianos.
Bem, além das paisagens e do contato com o povo,
proporcionado pelas longas viagens, nestes dias também tenho a
oportunidade de visitar templos incríveis tombados pela UNESCO como patrimônios
da humanidade.
São construções incríveis e de um magnetismo impossível
de ser descrito por email.
Só um detalho do que vejo hoje: a cúpula do templo de
Thanjavu, toda esculpida em uma única rocha de granito, com peso estimado de oitenta
toneladas.
Detalhe: esta cúpula está colocada sobre o prédio
do templo com um pé direito de trinta
metros de altura.
Templo de Thanjavu |
É doce, mas não é mole.
Fala-se muito das proezas da engenharia dos
egípcios antigos, mas dos indianos pouco se fala.
Bem, amanhã vou conhecer mais um super templo na
cidade em que estou, Madurai, e só depois decido se sigo rumo ao litoral
ocidental da Índia, junto ao Mar da Arábia, ou se começo a retornar para
Puttaparthi, onde passo em Prashant a
última etapa da viagem.
O que sei de concreto é que quanto mais ando por
esta terra mais me apaixono por ela.
Já chego ao nível das buzinas não mais incomodarem,
das longas viagens tipo lata de
sardinha se tornarem divertidas e do não entender da língua se tornar um
quase entender.
Se a Amazônia chapa
a gente pela quantidade enorme de vida vegetal e animal, aqui a gente fica
chapado mesmo é com a enormidade de vida humana por toda a parte.
É Índia, é Vida.
E nada melhor que celebrar a vida do que estar
numa terra que é pura vida.
O barco segue...
SAI RAM!!!
SORTE!!!
AMIn
SonhonIndia2 -Boletim 5 - Puttaparthi
Caros Pustas Mestres Amigos
Após oito dias pelo sul da Índia, retorno ao lar de
Sai Baba com a mente lotada com as
sensações e as lembranças de cinco templos, muitas cavernas sagradas, uma praia
pós-tsunami, duas mega cidades,
muitos vilarejos e, principalmente, muitos olhares e sorrisos colhidos.
Então, decido retornar para Prashant Nilayan ao invés de seguir para o litoral do Mar da
Arábia, onde tudo que veria seria de mero interesse turístico, e isso não é o
que busco nesta viagem.
Meus objetivos estão bastante ligados ao contato
com o sagrado e voltar ao ashram é o
melhor coisa a fazer depois deste tour
que cumpre este objetivo.
Percebo que estes templos e caverna têm uma ligação
kármica muito forte comigo e estar
ali é incrivelmente produtivo.
Particularmente, nos templos de Tanjavu e Madurai observo
milhares de pessoas em peregrinação, o que produz grande impacto e, certamente,
grandes fotos.
O interessante dos templos é que eles são enormes, verdadeiras cidades, com lojas e amplos espaços para receber os milhares de peregrinos que chegam diariamente e que, após visitarem as áreas sagradas, se sentamno chão do templo para almoçar e depois se esparramam para tirar uma soneca.
É uma visão bastante inusitada ver multidões de pessoas dormindo pelo chão sem nenhum pudor.
É muito desprendimento.
O interessante dos templos é que eles são enormes, verdadeiras cidades, com lojas e amplos espaços para receber os milhares de peregrinos que chegam diariamente e que, após visitarem as áreas sagradas, se sentamno chão do templo para almoçar e depois se esparramam para tirar uma soneca.
É uma visão bastante inusitada ver multidões de pessoas dormindo pelo chão sem nenhum pudor.
É muito desprendimento.
Em um templo próximo a Mamallapuhan, subo 550
degraus para, lá em cima, receber uma benção muito especial do sacerdote
brâmane.
Tudo vale a pena, até assar as batatinhas das pernas...uiuiui...
Em Madurai, última mega cidade que conheço, tenho um contato muito especial que rende grande exemplo de vida.
Ali reencontro um viajante solitário, um italiano,
que conheço nos primeiros dias em Prashant
Nilayan.
Bem, ser um viajante solitário é uma informação de
pouco significado não fosse o fato de ele ser um cadeirante.
Isto mesmo, o cara é paraplégico e viaja pela
Índia sozinho à bordo de sua cadeira de rodas.
Quer desprendimento maior...
Sobre o assunto da miséria, que abordo no último
boletim, quero esclarecer alguns emails que recebo.
Nunca falei que na Índia não há miséria. O que digo
é que esta se concentra particularmente nos centros urbanos e turísticos, como
em qualquer grande cidade do mundo.
De forma geral, não nego o fato de que a maior
parte da população indiana é pobre, porém de barriga cheia e muito feliz, assim
como muitas pessoas que habitam a região da Amazônia.
Também confirmo que a miséria costuma se concentrar
particularmente onde estão os turistas, o que causa impacto sempre.
Particularmente, observo muita gente com
deficiências físicas e muitos velhos pedintes pelas ruas. O que dizem por aqui
é que a ausência de um sistema de previdência social é um dos grandes problemas
do país, ao lado do maior índice de trabalho infantil do mundo.
As crianças que pedem esmola normalmente são mandadas
por adultos, que ficam à distancia, igualzinho no Brasil. Elas normalmente são
crianças bem alimentadas e que não precisam do dinheiro, como os velhos e os
deficientes.
Aos velhos e deficientes o povo pobre dá contribui
muito, e isso posso constatar nas viagens de trem.
Bem, esclarecidos alguns pontos, nesta próxima
semana mergulho em novo período de meditações, rituais e contemplações do
Divino, além da curiosidade de como será a celebração de Natal no ashram, e no dia vinte e sete pego o
avião de volta à terrinha.
Espero mandar um ou dois boletins antes do retorno,
e mais próximo poder desejar Feliz Natal a todos.
Fica assim.
OM SAI RAM!!!
SORTE!!!
AMIn
SonhonIndia2 -Boletim 6 - Especial de Natal -
Puttaparthi/ Prashanti Nilayan
Puttaparthi/ Prashanti Nilayan
Queridos Mestres Pustas Amigos!!!
Diariamente, após a passagem e benção de Sathya Sai Baba, saio do mandir e faço uma caminhada rumo ao meu
quarto (um shad coletivo, onde durmo com
mais cem barbudos!) e no caminho passo
por um jardim que chamo de Jardim
Encantado.
Neste jardim, já tenho uma cadeira ‘reservada’
debaixo de uma árvore, onde me sento e tenho mágicos momentos de contemplação e
reflexão.
Dentro do jardim, há um pequeno lago artificial, onde
vive uma maravilhosa coleção de flores de lótus de cores branca, rosa e lilás.
Pela manhã e no início da noite, as flores de lótus
rosa e as branca se abrem e a tarde desabrocham as lilás, simultaneamente ao
fechamento das primeiras.
O lótus é o Ser mais encantador deste planeta,
depois do Ser Humano.
Sua perfeição e simetria, aliados às suas cores,
fazem deste Ser um encantado.
Seu movimento de abrir e fechar todos os dias dá a ele
um caráter de Ser em existência plena.
Tudo começa pelo milagre de sua germinação, que se
dá através de uma semente que cai na água turva dos alagados e pântanos e
repousa no lodo escuro que fica nas profundezas.
Quando se acredita morta e ‘afogada’, a semente
germina e surge na superfície da água em forma de botão vigoroso rumando para o
Sol.
Então, desabrocha uma Flor/Vida plena de beleza e
individualidade, que é observada em seu movimento de abrir e fechar durante a
passagem do dia.
O lótus é o próprio símbolo do Renascimento, do
Cristo, do Natal.
O que parecia morto explode de vida.
Renasce.
E Encanta.
O que desejo é que o seu acordar de todas as manhãs
tenha este mesmo sentido, assim como desejo que o seu Natal seja revestido
deste Valor.
É o meu desejo para Você e a todos que ama.
BEIJO NO CORACAO!!!
SOHAM SAI RAM!!!
SORTE!!!
AMIn
São
Paulo, 29 de Dezembro de 2006
SonhonIndia2 -Boletim 7 -This is the end...
Querido Amados Pustas Navegantes
A epopéia chega ao fim.
Depois de três semanas dentro de Prasanthi Nilayan, no convívio da
Energia e Paz de Sathya Sai Baba, que
tanta meditação, contemplação e conclusões traz, oito dias viajando pelas
cidades de Bangalore, Chennai, Mamallapuram, Villupuram, Pondicherry, Thanjavu,
Madurai e Mombai e mais algumas dezenas de vilarejos localizados em quatro
estados indianos, visitando dezenas de cavernas sagradas e templos, sendo
dois destes templos tombados como patrimônio da humanidade pela UNESCO, olhando
nos ‘olhos’ de uma flor de Lótus, sorrindo junto com o lindo, sensível e
maravilhoso povo negro do sul da Índia, vivenciando a miséria de um slum (favela) de Mombai, chacoalhando por
mais de cem horas em trens e ônibus (argh!) da Índia, cantando no coral de
Natal em homenagem a Baba, entre 450
vozes vindas de mais de quinze países, ouvindo histórias mais que reais da
boca de uma sobrevivente do tsunami
de 2004, presenciando a dança de um arrozal ao bater do vento em uma planície
verde infinita, cá estamos de volta direto da Terra do passado já pousado na Terra
do futuro, a nossa amada Terra
Brasilis.
A sensação de retornar para casa, meu porto seguro,
é sempre ótima, pois costumo dizer que é sempre muito bom partir, mas é ótimo
retornar...
Nesta viagem, pude olhar mais diretamente no fundo
dos olhos do tigre, mais certeiramente nas contradições que fazem da Índia a
terra mais Sagrada do Planeta.
E se da primeira vez saio de lá encantado, desta
vez saio apaixonado.
O povo indiano é, assim, a própria síntese da
contradição.
Povo que cospe no chão, e anda descalço (70%
anda de chinelo e 30% descalço);
que tem a maior higiene pessoal do mundo, e joga lixo nas ruas e pelas janelas dos ônibus e trens; que contempla e respeita o valor do velho, e tem mais velhos pedintes por metro quadrado que qualquer país do mundo; que sofre, e nunca para de sorrir; que disputa cada moeda como se fosse a última, e sempre tem uma para quem mais precisa; que vive com o mínimo, e não almeja ter o máximo; que as mulheres têm papel firme e definido de agregadoras da família e formadoras de Seres Humanos éticos, e que nem por isso deixam de ser as mais femininas do mundo;
que jamais esboça um gesto de violência, pois não tem o componente ódio no coração; que as crianças são crianças, e tem cara de adultos;
que as mulheres se vestem envoltas em panos das mais diversas cores, sem jamais parecerem brega; que tem cara de miserável, e sorri de barriga cheia; que tem a força do passado, e a autodeterminação do presente.
que tem a maior higiene pessoal do mundo, e joga lixo nas ruas e pelas janelas dos ônibus e trens; que contempla e respeita o valor do velho, e tem mais velhos pedintes por metro quadrado que qualquer país do mundo; que sofre, e nunca para de sorrir; que disputa cada moeda como se fosse a última, e sempre tem uma para quem mais precisa; que vive com o mínimo, e não almeja ter o máximo; que as mulheres têm papel firme e definido de agregadoras da família e formadoras de Seres Humanos éticos, e que nem por isso deixam de ser as mais femininas do mundo;
que jamais esboça um gesto de violência, pois não tem o componente ódio no coração; que as crianças são crianças, e tem cara de adultos;
que as mulheres se vestem envoltas em panos das mais diversas cores, sem jamais parecerem brega; que tem cara de miserável, e sorri de barriga cheia; que tem a força do passado, e a autodeterminação do presente.
Povo indiano é Shiva, o deus da Transformação e
Morte!
Viajar à Índia é viajar para dentro de si, pois nós
somos esta contradição.
Se desprender do nosso próprio modelo e embarcar em
um outro, totalmente diferente é, antes de tudo, um desafio.
Olhar no espelho do outro, e achá-lo bonito, também
não é prática a que fomos preparados.
Somos ‘Narciso,
que acha feio o que não é espelho’, já dizia o poeta.
Feio é o que não é o seu próprio espelho.
A Índia é o velho experiente. Aquele que guarda as
tradições, o que tem a chave do passado e, por isso, o conhecimento do futuro.
Nós somos os adolescentes do Planeta com toda a sua
arrogância, aquele que aponta o dedo e fala cuspindo que tudo que é passado é
baboseira, que o velho é pra ser substituído.
Pobre de nós...
No Ocidente, falar de religiosidade, caridade,
amorosidade e cooperação é piegas, é de
mode, é careta, é coisa de maluco ingênuo, ainda mais para minha geração,
aquela que foi massacrada nos colégios de padres e madres e que jurou Guerra Santa contra tudo que não é
racional/material.
Somos da terra em que a educação dos filhos foi
terceirizada.
Onde adulto esperto é o que pinta as mechas
brancas para corre atrás de ‘comer menina novinha’.
(claro, desde que seja a filha do outro!)
Onde madame
de classe média não aceita as transformações do próprio corpo, a chegada do
tempo, e bomba as entranhas com
silicone.
Para nós, amor próprio se liga a amor estético.
Externo.
Bonito é o que os outros acham de nós.
Onde adulto tem medo de criança.
Onde ficar sozinho é tortura.
Ouvir a si mesmo, impossível.
Conviver consigo, tarefa inglória, sinônimo de desespero.
Por isso, é tão desafiador ir para a Velha Terra.
Por isso, tantos saem correndo ou se deprimem ao
estar ali.
Para ir à Índia, é preciso um motivo muito especial.
É preciso estar atrás
de si, mais que atrás de paisagens incríveis (que, aliás, existem aos
milhares...)
Mero turismo na Índia pode se tornar mera roubada.
Índia sou Eu
ontem.
Índia é síntese do Planeta.
Índia é.
Querido Pusta Amigo, Viajante Passageiro, obrigado
por sua presença neste barco.
Obrigado por ter sido, mais uma vez, um porto tão
seguro, testemunha de minhas vivências, descobertas e conclusões.
ATÉ A PRÓXIMA!
BEIJO NO CORAÇÃO
SOHAM SAI OM!!!
SORTE!!!
AMIn