Quem sou eu

Quem sou eu? Historiador, viajador, fotografador. ViajantePassageiro. Mas o que eu gosto mesmo é de viajar na janelinha... ViajantePassageiro, eis o que todo ser humano é. Ser ViajantePassageiro neste planeta é privilégio de ser humano. Aproveite. Repartir a sabedoria adquirida na caminhada é puro deleite... Abaixo você acompanha relatos feitos durante viagens a um seleto grupo de amigos ao qual você agora faz parte... O viajante está sempre de passagem. O ser humano está sempre de passagem. Vive o minuto o momento o instante porque único. Às vezes esquece que o agora não é sempre, e chora, faz bico, bate o pé, diz que não vai embora. Mas é viajante e por isso passageiro. Lembra que o eterno é pra daqui a pouco e o agora eterno. Sorri e prossegue. Pode entrar que a casa é sua...

sábado, 19 de março de 2011

SonhonÍndia3 (2007) - Caxemira, Ladakh, Dharamsala, Punjab, Delhi





SonhonIndia3 - Boletim 1 – Srinagar (Caxemira)


Queridos Pustas Amigos

Para muitos é novidade, pois as coisas aconteceram mais rápido do que
pensava e não consegui revelar os planos que tinha em mente de voltar à Índia tão cedo.
Pois é, cá estou de volta à mamma Índia, a terra mais antiga desta
Terra, para mais uma jornada de conhecimentos.
A viagem para chegar aqui já foi bastante inusitada, pois pego um voo via
EUA e, para meu espanto, a rota traçada era via Canadá, Groenlândia, Noruega, Rússia, Afeganistão e, só então, Índia. Foram 25 horas dentro de 3 aviões, fora às 10 horas de chá de aeroporto.
Porém este traçado valeu demais à pena, pois olhar de cima a congelada Groenlândia (aquela que só conhecia pelo tabuleiro do 'WAR') é inenarrável, assim como passar a poucos quilômetros de Moscou, por sobre o mar Aral (Rússia) e ainda ver o Himalaia se encontrar com o deserto do Afeganistão (quem poderia imaginar picos congelados no deserto!!).

Chego em Nova Delhi e no aeroporto já percebo a pista molhada e a presença do fenômeno natural da temporada: as chuvas das Monções.
Todos os anos, nesta época, estas chuvas aplacam a Ásia e renovam plantações, reservatórios de água e a vida em geral. Também são responsáveis pela morte e desapropriação de muita gente, como provavelmente vocês viram (ou verão) pelos noticiários.
Antes de ir para o hotel, vou a uma agência de turismo e fecho um pacote de uma semana na Caxemira, de onde estou falando neste momento.

A Caxemira é uma região da Índia que fica próximo ao Himalaia, e é mais
conhecida por ‘nosotros’ por ser uma região de conflito entre indianos e paquistaneses que lutam pelo controle da região e não por sua incrível beleza natural e pelo seu pacífico astral, muito semelhante ao vizinho Tibet.
Porém, neste momento, descrevo bem por cima o que já conheço em meu primeiro dia na capital Srinagar.
Esta é uma cidade extremamente pacata, de gente muito gentil e hospitaleira, onde existe





três lagos gigantes e, dentro destes, uma centena de ‘house boat’ e barcos de comércio. Em outras palavras, aqui você fica instalado em casas e hotéis flutuantes com um ‘pequeno’ detalhe: todos rodeados por jardins flutuantes de vitórias régias e flores de lótus.



House-boat


Chato, né...




'Campo' de lótus



O ‘house boat’ em que estou hospedado é cuidadosamente decorado com tapetes tipo persa e lustres de pingente, coisa bem kitsch, o que causa uma atmosfera relaxante e romântica. Aliás, dá vontade mesmo é de passar lua de mel por aqui... Alguém se habilita?!... rsrs











Neste ambiente mais que bucólico chama a atenção o constante vai-e-vem de pequenos barcos de mercadores que cruzam os lagos entulhados com seus produtos, bem ao estilo dos bairros flutuantes de Bangcoc e Vietnã.







Comércio dentro do lago





























'Taxi-boat'












De pano de fundo, observo o Himalaia que, agora no verão local, não está coberto de neve.
A paz do lugar faz com que qualquer um se esqueça que a poucos quilômetros daqui existe um conflito diplomático/militar. Mais difícil ainda é imaginar que do outro lado do Himalaia todo o caos da Índia esteja rolando desenfreadamente neste exato momento.
Mundos dentro de mundos.

Os planos para os próximos dias vislumbram trekking pelo Himalaia, visitas a aldeias tradicionais, passagem por mosteiros budistas e muitos, muitos passeios de barco.
Desta vez chego ao paraíso no dia seguinte em que ponho os pés na Índia, diferente das outras duas vezes quando primeiro encontrei o caos.
Sinto-me um convidado ilustre de um Universo em plena conspiração.

Obrigado!!!
Obrigado!!!
Obrigado!!!

Bem, vou ficando por aqui, pois o computador que estou usando é do dono do barco e só tenho meia hora de conexão.

Adilsão, meu irmão, fala pra mãe que tudo está melhor que a encomenda e que, claro, ligar para o Brasil continua sendo um verdadeiro parto. Quando der ligo.
No mais, vamos todos juntos nesta nova jornada, e boa viagem para
‘nóis’!!!


BEIJO NO CORACAO

NAMASTE

AMIn

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SonhonÍndia3 - Boletim 2 – Srinagar2


Queridos Manos Pustas Amigos

Saramaleko!



Uma das 5 orações em direção a Meca



Sim, vocês devem estar pensando que estou louco mandando uma saudação típica do mundo árabe direto da Índia.
O caso é que a Caxemira tem sua população formada por nada menos que 90% de mulçumanos e, verdadeiramente, me sinto muito mais no Oriente Médio que na Índia. Expressões árabes como ‘Saramaleko, Salam e In Shallah’ são cotidianas.




Fiel muçulmano




É, isto é Índia, terra das contradições e do tudo ao mesmo tempo.

Hoje, por exemplo, é 5ª feira, feriado islâmico e toda a cidade está nas mesquitas rezando, e é aí que ganho o 1° presente desta viagem: acompanhar, de dentro de uma mesquita de mais de 700 anos, milhares de pessoas rezando, em direção a Meca, com direito a fotografar todo o ritual, inclusive as mulheres. Para se ter noção da raridade deste episódio, quando passei um mês no Oriente Médio consegui fazer menos de meia dúzia de fotos de mulheres, todas feitas às escondidas, e aqui, em menos de uma semana, já tenho ‘uns par’ de ensaios fotográficos das mães do Oriente, inclusive em pleno ritual islâmico.

É, isto é Índia, terra do sincretismo e da convivência mútua.



Mulheres do Islã





































































Mas como a Índia também é a terra das contradições, este paraíso terrestre não é só a pura paz que transmito em minhas mensagens.
Como vocês sabem, estou há uns 20 quilômetros da fronteira com o Paquistão, país que disputa a posse deste paraíso local e, por este motivo, talvez 50% do exército indiano esteja nesta região.
Por onde se olha, pelas ruas e estradas, há sempre um militar, um tanque, um carro urutu, uma trincheira de sacos de areia.
Na viagem que faço para esta cidade, acompanho um comboio de mais de 120 caminhões do exercito cruzando meu caminho vindo da fronteira do Paquistão.
Muita grana sendo gasta em um pais na situação da Índia.

É, o paraíso está em estado de sitio.
Aliás, me sinto realmente em um ‘país’ em estado de sitio.
Nem fiz esforço para fotografar.



Mulher de burka



A Caxemira foi anexada pela Índia na mesma época em que o Paquistão foi criado (1947), no mesmo período em que a URSS anexou os vizinhos Afeganistão e Cazaquistão e pouco antes da China ocupar o vizinho Nepal.
Como vocês veem, o paraíso é doce mas não é mole.

O sentimento dos moradores locais é de que a Caxemira é um ‘pais’ à parte da Índia e que oxalá um dia voltará a ter sua autonomia reconquistada.
Há grupos lutando pela separação e uma prova viva disto foi a explosão, antes de ontem, de uma bomba no centro da cidade, felizmente, no período em que eu estava viajando. Foi um ato político realizado por um grupo separatista ‘só pra fazer barulho’, como dizem os locais, mas o resultado foi a morte de um adolescente atingido na cabeça por um tiro desferido por um policial, o que gerou uma greve geral que presencio ao retornar da viagem.
Não há nada como ver o noticiário direto do local!

A ânsia pela separação é algo visceral neste povo e não é incomum escutar as pessoas dizendo expressões como "lá na Índia" ou "o soldado indiano é estúpido", tudo como se a Caxemira ainda fosse uma república independente.
Coisa de magoa instalada.



Bem, mudando de foco, vamos aos outros grandes presentes da viagem.
Nos últimos 3 dias, acampo em um vale do Himalaia à beira de um rio de águas congelantes vindas direto dos altos picos.


Acampamento no Himalaia


Ali faço um trekking de 11 horas. Isso mesmo, 11 horas de caminhada sendo 9 delas a pé e duas a cavalo. Todo este esforço sobrehumano para chegar a um festival hindu que acontece em um vale no meio do nada. (ou do tudo!)






Peregrinação rumo ao Vale de Shiva  - Sincretismo religioso



O detalhe é que quando me venderam o pacote não me falaram que eu iria participar de uma peregrinação entre milhares de pessoas que se destinam a um vale sagrado.
O caminho é feito por uma estreita estrada, de no máximo 4 metros de largura, que vai costeando as escarpas das montanhas sempre rumo ao céu, e por ela passa uma ininterrupta fila de uns 15 quilômetros composta por milhares de pessoas e cavalos.
Miragem.

Pela caminhada mais punk da minha vida presencio muitos peregrinos animadamente gritando ‘JAI BOLÊ’, que em hindi significa "Deus está feliz".
A recompensa desta ‘cacetada’ é chegar em um vale espremido por duas montanhas, todo ele coberto de neve fruto de avalanches, e no fundo deste uma enorme boca de caverna sagrada onde está uma imagem de Shiva.
Sim sempre SHIVA.
O festival acontece sobre a neve.
Posso dizer sem medo de errar que foi o lugar mais doido que vi em minha vida.
Espero que as fotos façam jus.

Nos dias posteriores ao festival faço trekking e passeios por locais em que verdadeiramente me sento dentro de uma folhinha de calendário.
Manja aquelas folhinhas de alfaiataria com imagem em que um cavalo pasta a beira de um rio, em primeiro plano, uma floresta de pinheiro, em segundo, e picos nevados, ao fundo? Este é o lugar...


Paisagem de 'folhinha de calendário'


Esta região é habitada pelos shepard, povo nômade pastoril chamado pelos locais de ciganos, que levam suas criações de gado e ovelha para engordar nas fartas pastagens dos altiplanos nos meses da primavera/verão.





Casa shepard
Eles moram em cabanas de madeira muito fresquinhas construídas com telhados cobertos com barro e numa delas tenho o privilégio de tomar um chá salgado na companhia da família proprietária.
Verdadeira aura de sonho.









Casal shepard



Bem, muito mais tenho a contar, mas o tempo não para e o barco corre.

Amanhã sigo da região mulçumana do norte da Índia e adentro na região budista indiana do topo do mundo. Vou para a região de Ladakh onde fico na capital Leh, terra dos lamas tibetanos.
De lá mando mais quentinhas, apesar de saber que a temperatura da região é de mínima de -3°C.

Sempre repetirei para vocês, meus muchos amigos: “Que delícia/privilégio ter para quem escrever o que melhor acontece em meu coração”.



Mulher shepard




BEIJO NO CORACAO

IN SHALLA (Agradeço o que meu Deus escolher para mim!)
SARAMALEKO
NAMASTE
JAI BOLÊ
SORTE!!!

AMIn


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SonhonÍndia3 - Boletim 3 – Leh (Ladakh)


Olá meus Queridos Pustas Amigos Viajantes

Depois de toneladas de flores de lótus, bombas explodindo, barco do amor, banhos em rios congelantes, peregrinações, camping, trekking e afim, cá estou eu em mais um lugar mágico da mágica ‘mamma Índia’, Leh, capital de Ladakh, o centro do budismo tibetano na Índia do outro lado do gigante Himalaia.

Para chegar aqui saio de Srinagar e subo num ônibus categoria 'SUPER LUXO' (Na Índia, sabe o que faz de um ônibus ser categoria 'SUPER LUXO'? É quando o banco reclina... hahahaha) e adentro o Himalaia para a viagem de ônibus mais louca do mundo. São horas e horas por desfiladeiros e precipícios entre paisagens de picos nevados.


Parada para fazer xixi em um deserto no Himalaia


Muito frio na barriga em uma viagem de mais de 30 horas por estradas extremamente estreitas medindo talvez 2 fuscas lado a lado, mas que a toda hora obriga nosso ônibus a se espremer para permitir a passagem de outro ônibus ou caminhão que chega na direção contrária.


'Tranquilas' estradas do Himalaia


Pelo caminho, vejo no fundo do precipício a carcaça enferrujada de alguns caminhões que não conseguiram se equilibrar nas pistas escorregadias da estrada.
Puro tesão, tensão.

A certa altura da viagem, passo por uma cidade, Drass, que tem uma peculiaridade: excluindo a região da Sibéria é a cidade que apontou a menor temperatura registrada no planeta- módicos 40°C abaixo de zero.
AIAIAIAI...

Depois de 20 horas de viagem, o ônibus, então, para em um vilarejo, Kargil, e todos os passageiros são instruídos a descer e procurar um hotel para passar a noite para no dia seguinte entrar no mesmo ônibus e seguir por mais 10 horas de jornada.
Sabe quantos quilômetros foram percorridos nestas 20 primeiras horas de viagem? 430 quilômetros....

É doce, é frio, mas não é mole...


No dia seguinte, acordo às 4 da manhã e subo novamente no ônibus para mais 12 horas de viagem, mas a grande história deste percurso ainda estava por vir e começa a ser contada quando nosso ônibus, já no fim da tarde, é obrigado a parar por causa de um caminhão, no outro sentido, que bloqueia os 2 lados da estrada tendo uma de suas rodas flutuando sobre o precipício. Por muito pouco o caminhão não despencou ribanceira abaixo. Isso provocou um congestionamento de veículos nos dois sentidos.



Esse aí certamente fez xixi nas calças


Naquele momento, vejo meus planos de chegar a Leh voarem e, quando o desamino começa a tomar conta e me preparo para ficar ali ad eternum, percebo uma movimentação entre os diversos motoristas que, depois de uma breve reunião, saem na direção de seus veículos e voltam munidos de pás e picaretas e começam, em mutirão, a escavar a parede sedimentar da estrada que, em pouco mais de uma hora, se transforma em um milagroso atalho por dentro da montanha, o que permite que nossa jornada continue.
Inacreditável!!

Todo este percurso é nada menos que um pequeno pedaço da famosa Rota da Seda, aquela mesma percorrida por Marco Pólo em 1200 a.C., e se trata do trecho que liga o Paquistão à China.
Quem assistiu ao filme Alexandre se lembra do momento em que ele chega ao Himalaia e os seus generais dizem que a única passagem para seguir viagem é pelo meio das montanhas geladas.
Pois é, acabo de realizar mais um sonho... (pelo menos um trecho dele), pois sempre sonhei percorrer a Rota da Seda, que vai de Veneza à China.
Aliás, neste momento, estou a menos de 200 quilômetros da China, ou se preferir do Tibet ocupado.

Durante o caminho testemunho a transição do mundo islâmico para o mundo budista tibetano através da alteração da arquitetura das casas, do surgimento de stupas (santuário budista) e dos tradicionais varais de bandeirolas tibetanas colorindo a paisagem, assim como pessoas com fisionomia chinês/tibetano/ mongol em substituição aos retos e marcantes traços da fisionomia da população islâmica do outro lado do Himalaia.



Moradores tibetanos do Himalaia


















Stuppa budista
Pusta viagem ‘malhuca’!!
E pensar que toda esta diversidade acontece dentro de um mesmo país...

A baixa do trajeto é perceber que toda região do Himalaia, por sua posição estratégica e vulnerável, é fortemente militarizada e ao longo da jornada sou obrigado a parar e mostrar o passaporte em pelo menos 6 bases militares e escolas de guerra, o que causa a sensação de se mudar de país a cada parada.

É, o homem ganhou o paraíso de presente e o colocou em estado de sitio.
Pobres Humanos...

Outra loucura é perceber como tem gente vivendo em todo canto deste mundão de meu Deus.
Sabe o que é o ônibus parar no meio de um deserto, no meio do nada, onde você imagina ser impossível alguém viver e, de repente, surge alguém de malinha na mão, pano na cabeça, se aproxima e sobe no ônibus?





Camponês





Oh bicho doido este 'tar de bicho homê'...!!

Assim, após 32 horas de viagem (UFA!!), chego em Leh, cidade de 5 mil anos com cara de 5 mil anos atrás.



Paisagem da milenar e incrível cidade de Leh, capital do estado de Lagash



Logo na entrada da cidade, nosso ônibus passa por abaixo de um portal em estilo completamente chinês denunciando a coompleta mudança que a paisagem que a estrada já anunciava.




Portal de Leh, cara de China



Portal de Leh
Por suas ruas transitam dúzias de monges budistas por metro quadrado.















Monge budista tibetano


















No ônibus faço amizade com 2 israelenses, um islandês, um neozelandês e um inglês, grupo com quem me junto e divido um quarto num hotelzinho com direito a sorrisos gratuitos dos proprietários, jardins floridos, barulhinho de água corrente no quintal 24 horas por dia e com paisagem alucinante de frente para quem? Claro, sempre o estonteante Himalaia.
Tudo mais me lembra Shangri La.

Amanhã vou me permitir um delicioso dia livre para me recuperar do tranco da viagem e para me acostumar com a altitude de quase 4000 metros que traz vertigem e 'leseira'.

É isso ai, tchurma, o barco segue senão o bicho pega...

Daqui uns dias volto a falar sobre a vida em Leh.

Mais uma vez obrigadérrimo pelas mensagens e desculpem sempre a ausência de respostas às mensagens recebidas, pois a NET está cada vez pior e mais cara.

Só para fechar, segue uma quente que ganho ontem:
“O SILÊNCIO É MELHOR QUE O DISCURSO, E POR VEZES MELHOR ATÉ QUE A AÇÃO”

BEIJO NA ALMA

SORTE!!!

JAI BOLÊ

AMIn

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SonhonÍndia3 - Boletim 4 - Dharamsala


QUERIDOS PUSTAS VIAJANTES AMIGOS


Por aqui a viagem segue um show.
Depois de 5 deliciosos dias em Leh, sigo viagem e cá estou na cidade onde vive Sua Santidade, o Dalai Lama, mais um paraíso escondido nas montanhas do imenso Himalaia.

Leh foi sem dúvida uma experiência transcendental.
Ali é o centro do budismo tibetano na Índia. O lugar é o próprio zen, com ruelas super estreitas, templos com cara de China, rodas de oração pelas ruas e Himalaia cheio de neve de pano de fundo.
Por todo lado se veem aquelas carinhas de gente meio peruano, meio tibetano, meio chinês, todos gente fina e prontos para te falar djuleh, que por  aqui serve para quase tudo: bom dia, obrigado, tchau... É o mesmo que namaste no Nepal.

Encontro em Leh uma paz ainda maior do que havia encontrado em Srinagar.
Srinagar, em verdade, é uma cidade extremamente turística onde se vive uma pressão constante das pessoas tentando sempre tirar uma 'casquinha' do turista como se ele fosse o mais rico do mundo. Aliás, gasto por lá o que não posso.




Morador de Leh



O bairro onde fica meu hotel em Leh é uma espécie de Trindade misturada com Visconde de Mauá depois de 20 anos da passagem dos hippies.
É, como diz uma pessoa muito querida minha, um lugar do tipo "intelectual de esquerda", meio bicho grilo, com Pink Floyd tocando de som de fundo nos bares e gringos com bolsos cheios de grana andando de bata e fumando haxixe por todo lado.Aliás, fumar haxixe é liberado por aqui e a turma fuma que é uma enormidade. Nos bares tem sofás onde a moçada fuma até não poder mais e se afunda nas almofadas.
Neste bairro têm restaurantes de culinária do mundo todo, e isso aliviou muito meu fígado, pois a Índia é como a Bahia: uma delícia nos 10 primeiros dias e depois você não aguenta nem mais olhar a comida pelo excesso de temperos e pimenta.
Assim, nestes dias abuso da culinária chinesa e das frutas.

Foram 5 dias de muito sossego e, apesar de ser um centro de esportes radicais, não penso em trekking ou passeios radicais.
Veja só, eu que sou um apaixonado por mountain bike, até abro mão de uma descida de bike de 60 quilômetros (UIUIUI!) montanha abaixo com meus amigos gringos. Prefiro ficar andando pela cidade, escrevendo meu diário, curtindo a paisagem e, parodiando Gilberto Gil, caminhar pelas ruas "olhando a cara da pessoa comum e da pessoa rara"...



Monastério milenar, cartão postal de Leh



No centro de Leh existe uma montanha e no alto dela um super palácio antigo daqueles bem ao estilo dos monastérios tibetanos que lembra a Potala, no Tibet, e é o grande cartão postal da cidade. Um lugar mágico onde passo quase todos os meus finais de tarde curtindo o pôr do sol de frente de uma vista panorâmica da cidade com, claro, Himalaia nevado de cenário.



Interior de monastério budista


O máximo de esforço que faço, nestes dias, é visitar um monastério budista, e aí insight de tempos passados.
Sentimento de encontros reencontros...


Então saio de Leh, às 4h30 da manhã, e pego um ônibus categoria 'EXTRA SEMI LUXE' (O que isto significa? Significa ônibus que não reclina os bancos e ainda não cabem as pernas entre as poltronas!!!...putz) rumo a Manali, um super paraíso turístico da região.
Na mitologia hindu, assim como a persa, há um similar a Noé que se chama Manú. Ele, assim como Noé, recomeçou a humanidade e Manali, em hindi, significa a "Casa de Manú".

Foram 16 horas de viagem no 'Extra Semi Luxe' com nova parada no meio do caminho para dormir para no dia seguinte percorrer mais 7 horas, perfazendo 23 horas de viagem para cobrir novos 480 quilômetros de estradas totalmente off road.


Acampamento de pastores


Apesar da trituração das costas e dos joelhos, a viagem é completamente incrível e paradisíaca. Passo por todo tipo de paisagem: de deserto a escarpas lotadas de pedras soltas, de montanhas gramadas a florestas de coníferas, de lagos verde esmeralda a florestas úmidas, de pastagens cobertas de ovelhas a cidade no meio do nada. Inacreditável a variedade de paisagens e ecossistemas, principalmente para quem sempre acreditou que o Himalaia fosse só feito de escarpas pedregosas e picos nevados.
Ledo engano.
































Vivendo e aprendendo, ao vivo!

A viagem é uma sucessão de subidas e descidas de montanha.
Nas viagens pelo Himalaia, o ônibus sobe, sobe, sobe a montanha até chegar ao pico quando, então, passa por uma passagem até atingir o lado oculto da montanha. Então desce, desce e desce até encontrar o rio que corta o fundo do vale. Aí segue beirando este rio até nova subida e descida da próxima montanha para atingir um novo vale e, assim, sucessivamente.



Estradas que cruzam o gigante Himalaia


Pelo caminho perco a conta do número de montanhas conquistadas, mas certamente não esqueço os 5 picos de mais de 5000 metros e um de mais de 6000 metros que vencemos.
Coisa de dar tontura, pressão nos ouvidos, dor de dente e coisas que o valham!

SHOW!!! Esta a melhor palavra para descrever a incrível jornada para chegar a Manali.

Porém, inegável o extremo teste físico e mental (por que não dizer espiritual) que a viagem impõe, afinal 23 horas sem reclinar banco e esticar as pernas é parada para gente grande.

Isto é Índia.... Dores e delícias.


Chego em Manali por volta de 9h30 da manhã e logo compro minha passagem para Dharamsala.
Apesar de o lugar ser paradisíaco, não me mostro disposto a fazer trekking, rafting e afins. O lugar é uma espécie de Campos do Jordão himalaico, muito mais perfeito para um vinho a 2 à beira de lareira, e como não é bem este o meu caso planejo curtir meus últimos dias próximo da residência de Sua Santidade, Dalai Lama.
Então, pego um hotel apenas para tomar um banho e descansar a carcaça até as 18 horas, horário da partida do meu ônibus agora categoria 'ORDINARY'. O que isto significa? Significa ordinário no pior significado em português.
O ônibus é um ônibus de linha tipo pinga-pinga, daqueles que param em todos os vilarejos e, nestes locais, é invadido por uma multidão de gente sedenta por um assento vazio.
Quantas horas de viagem? Desta vez, 'apenas' 10h30.

Desta feita, depois de 10h30 de muito pinga-pinga, jump-jump e móe-móe o corpo, e ainda debaixo de toda a força e pressão das monções, que há tempos não sento, chego por volta das 5h30 da manhã em mais um paraíso terrestre, a cidade de Dharamsala.

Por sorte ganho de um americano, que conheço na estrada, a dica de um hotelzinho super especial, e logo que chego vou para lá e espero na recepção os donos do hotel acordarem por volta das 7 horas.
Quando o dia amanhece percebo a dimensão do paraíso em que me encontro e quão especial é a dica do americano sobre este hotel.


Dharamsala fica entre duas montanhas maravilhosas. De um lado a montanha é coberta de pinheiros e do outro coberta por uma mata que lembra a nossa mata atlântica. Pago um pouco a mais para ter direito a um quarto com varanda que flutua sobre o lado coberto de pinheiros com direito, ainda, a som de regato correndo dia e a noite debaixo da janela.
Vamos e venhamos, eu mereço, afinal, depois de tanta trituração, meu corpinho/mente/ espírito merecem a melhor recompensa que um guerreiro pode ter.
Para visualizar, a vista do meu quarto lembra a Montanha Walton, manja?! (pra quem na lista tiver menos de 30 anos, favor consultar os pais onde fica a montanha Walton e quem foi John Boy... hehehe)

Bem, foi chegar, dormir, acordar, comer, tomar o banho mais quente da viagem (também merecido...) e dormir, dormir e dormir para tentar repor as quase 34 horas de viagem percorridas nos últimos 3 dias.
Então, depois de hibernar, saio para dar uma volta e aí sim tomar noção do quanto este lugar é maravilhoso e especial.
Saindo do meu hotel subo uma ladeira e descubro um charmoso bairro com lojinhas turísticas e um movimento muito agradável de turistas e monges e monges e mais monges por todos os lados.
Se achava que havia visto muito monge pelas ruas de Leh é porque ainda não havia chegado aqui. A densidade "mongeográfica" da região é de uns 8 monges para cada turista. Esta, pelo menos, é a primeira impressão.

Vou andando vagarosamente pelo lugar e chego de frente da vista da montanha para o outro lado, aquela do tipo mata atlântica.



Moradora de Dharamsala


Como choveu muito no dia anterior, a montanha está coberta por uma densa neblina, num cenário extremamente aconchegante.
A chuva é intermitente e insistente, e no intervalo de uma e outra acabo, por inteiro acaso, me abrigando em um templo budista e aí começa meu contato com a sacralidade do lugar.
Ao entrar no templo me deparo com uma atmosfera religiosa muito especial e vejo algumas pessoas concentradamente agachando, deitando e levantando entoando mantras enquanto outras percorrem um circuito girando rodas de oração com a inscrição do mantra OM MANI PADME HUM entorno de um templo.
Então, adentro este templo e me deparo com paredes cobertas por pinturas de cenas típicas tibetanas e mandalas cheias de cores e detalhes ao lado de imensas estátuas douradas do Budha, entre eles o Bhuda de Mil Braços, aquele que os tibetanos julgam ser a atual encarnação do Dalai Lama.


Imagem dourada do Buddha Sakyamuni


Me sento em um banco e fico distanciadamente olhando todas aquelas demonstrações de fé e percebo que estar em Dharamsala fecha um circuito muito especial por uma tríade religiosa que se inicia em Srinagar, onde presencio a 5ª feira sagrada dos mulçumanos dentro de uma antiquíssima mesquita, passando pela peregrinação de milhares de pessoas no vale sagrado de Shiva,no Himalaia, e termino agora, tetê a tetê, em contato com a religião da universalidade dentro do templo budista que, mais tarde, descubro ser onde vive o Dalai Lama.

Como convidado privilegiado que me sinto, só me resta agradecer ao conspirante Universo.

OBRIGADO!!!
OBRIGADO!!!
OBRIGADO!!!

Também agradeço imensamente poder ter com quem partilhar as experiências mais especiais que tenho tido nestes 2 últimos anos, o meu Especial grupo de Pustas Amigos Viajantes.
Imediatamente me vem à cabeça aquela música:
"Jogue suas mãos para o céu e agradeça se a caso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você, na rua, na chuva ou na fazenda, ou numa casinha de sape".
Eu, como privilegiado que sou, tenho. Minha família e meus amigos.

NAMASTE!!!

SORTE!!!


AMIn


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SonhonÍndia3 - Boletim 5 - Delhi


QUERIDOS PUSTAS VIAJANTES AMIGOS

É, o barco segue e quem não subir nele fica pra trás mesmo...
Já se foram 4 semanas de uma jornada única e, após tantas venturosas aventuras e desventuras, cá estou de volta ao ponto de partida: Nova Delhi.

Em nosso último encontro estávamos em Dharamsala, residência do Dalai Lama e de lá pra cá muita água rolou debaixo desta ponte.

Os dias em Dharamsala foram mágicos, pois ali tenho um contato muito especial com alguns monges no templo que encontro logo que chego na cidade (lembra, aquele em que me refugio da chuva...).
Para lá fui todos os dias, pois os templos no oriente não são como as igrejas para nós, aonde as pessoas só vão para rezar. Por aqui as pessoas vão ao templo para estar, para conversar com amigos, para ficar em um ambiente aconchegante.




Aula de trombeta tibetana





























Em uma destas tardes, quando novamente uma chuva me detém por mais tempo, presencio uma experiência única e fantástica: um debate entre monges.
O aprendizado de um monge budista tibetano dura 16 anos. Todos os dias eles têm aulas de tibetano e inglês, horas de meditação e horas e horas de aula sobre filosofia budista.
Quando eles saem dessas aulas vão para um pátio interno e se dividem em duplas e ali um dos membros da dupla fica de pé e começa a perguntar/inquirir o outro, que se encontra sentado, sobre os ensinamentos acumulados.
Então começa um verdadeiro teatro, pois o inquisidor pergunta de maneira muito veemente as questões para o seu companheiro, e se este não responde à pergunta feita, ou se responde errado, ele bate forte com as palmas das mãos e grita alto a palavra "sá", que em tibetano quer dizer "errado".







Debate filosófico entre noviços budistas 


Só que este bater de palmas é feito de forma cênica e concomitante a uma posição de pernas que lembra um golpe de kung fu, e isto se mostra muito engraçado para quem presencia este curioso debate.
São horas de debate entre dezenas e dezenas de duplas, e os gritos e o estalar das palmas causa um som no ambiente que mais lembra uma feira ou um grande tumulto.
É um caos que lembra briga, mas que pelas expressões dos inquisidores, sorridentes e beirando o deboche, se revela uma cena muito pitoresca.

É neste barulhento ambiente que me vejo envolvido por um grupo de 6 monges muito curiosos com minha presença, e após o término dos debates acabo recebendo uma verdadeira aula de budismo de um deles, o qual tem muito conhecimento, pois está na formação há 13 anos.
É mais um presente que o Universo traz, uma vez mais, através das águas das chuvas.

Assim, depois de 4 dias andando lentamente, comendo deliciosamente, dormindo esplendidamente, aprendendo com monges, sentindo a atmosfera dos templos, curtindo a vista da montanha da varanda de meu quarto e tomando diariamente o banho mais quente de toda a Índia (claro, seguido da ducha mais fria do Himalaia!!), me sinto refeito e vejo que as dores no corpo foram para não mais voltar e, então, percebo que o que realmente voltou é minha fome de estrada.

Me despeço do gigante Himalaia, meu cicerone e professor nestas 3 semanas, e pego minha mochila para encarar mais 9 horas de ônibus "ordinário" (lembra?!) rumo à cidade de Amritsar, no estado do Punjab, centro religioso da cultura sikh na Índia (aqueles que reconhecemos pelos enormes e coloridos turbantes, bigodes e barbas fartas e cara de rajá...), onde se encontra uma das maiores pérolas espirituais e arquitetônicas da Índia, o Golden Temple. (vale a pena uma passadinha na internet para admirar o lugar)

Interessante é que durante a viagem de aproximadamente 8 horas, a paisagem denuncia uma sensação de "volta" para a Índia, pois o que vivo nestes últimos 25 dias, ora na maior porção mulçumana do país, ora na porção budista, é uma sucessão de paisagens, povos, comidas e costumes muito diversa do restante do país.
Curtir a viagem e ver retornar as paisagem rurais, as feiras nas ruas dos vilarejos e o caos instalado nas ruas das cidades realmente dá uma sensação de mudança de país.

Então chego a Amritsar, cidade a 30 quilômetros da fronteira com o Paquistão, onde dou de cara com uma acachapante temperatura de 44°C e, inevitavelmente, recordo com saudade os constantes 20°C e as chuvas diárias das montanhas de Dharamsala.
Ali logo me dirijo da rodoviária para o templo, onde me instalo no dormitório reservado a turistas estrangeiros com suas acomodações gratuitas pelo período de 3 dias.





Visão panorâmica do complexo do Golden Temple



Diariamente, milhares de peregrinos chegam ao Golden Temple para confirmar a sua fé junto a este patrimônio da humanidade que é considerado a ‘Meca’ dos sikhs.



Sempre simpáticos sikhs


Os peregrinos são acomodados no templo, onde recebem 3 refeições diárias sem desembolsar um só centavo por isso. São preparadas nada menos que 40 mil refeições por dia para um público de 10 a 12 mil pessoas que chegam diariamente de todas as partes da Índia.



Trabalho voluntário nas cozinhas do Golden Temple


Vale mencionar que todas estas refeições são custeadas pelas contribuições dos peregrinos e preparadas por um verdadeiro batalhão de voluntários.
É mole!!!









Bem, o mais difícil neste relato é descrever a atmosfera do lugar.
O templo central, todo dourado, fica no centro de um lago e este fica rodeado por um complexo de palácios brancos. Um grande desenho arquitetônico quadrado com o templo no centro.



Reverência que todos os sikhs fazem ao adentrar ao Golden Temple





















Então, as pessoas andam em ritmo de peregrinação em torno do lago, e do templo, meditando, rezando e contemplando ao som de músicas religiosas que vêm de dentro do templo dourado executadas, ao vivo, por grupos que se revezam durante 20 horas por dia.























As pessoas também ficam sentadas por todos os espaços, meditando, namorando o hipnotizante templo dourado, contemplando.



Momento de introspecção diante da "Meca" dos sikhs



As roupas e os turbantes multicoloridos beiram o teatral, as barbas e as fisionomias concentradas feacham um espetáculo com aura de sonho... sonho nas terras das mil e uma noites...












O clímax da peregrinação é entrar no Golden Temple, local onde o patriarca dos sikhs está enterrado, e ali ficar em êxtase com a atmosfera sagrada do interior do templo e seus indescritíveis revestimentos em ouro e arte mouriscas cobrindo as paredes e tetos.



Golden Temple, onde está enterrado o patriarca dos sikhs



Quando entro no Golden Temple, uma sensação de maravilhamento toma conta de mim, pois o local é deslumbrante, e logo uma pontinha de melancolia me invade ao saber que esta visão, vetado às máquinas fotográficas, não poderá ser compartilhada com meus Pustas Amigos.
Desta vez vocês ficam de fora...




O local é inenarravelmente maravilhoso. Uma jóia comparável ao Taj Mahal. Talvez até mais preciosa...
Nesta recente eleição das 7 maravilhas do mundo moderno, que me perdoem os conterrâneos brasileiros, mas é de fazer rir (pra não dizer chorar!) que o Cristo Redentor tenha um lugar no pódio enquanto lugares como este ficam de fora.
Aliás, leio nos jornais locais uma grande grita dos espanhóis ao lamentar que Alhambra não tenha sido escolhida, assim como Angkor, no Camboja, enquanto a mídia brasileira festeja a eleição do Cristo e parte torcia também pela Estátua da Liberdade.(sic!)

Bem, depois de um dia de êxtase espiritual, e de um por de sol de tirar o fôlego, chega a noite e com ela uma surpresa pitoresca pois, por volta das 22 horas, os milhares de peregrinos que se encontram no local começam lentamente a se deitar pelo chão em torno do lago sagrado para dormir ao relento diante de um Golden Temple iluminado por luzes amarelas que pintam sua fachada de um 'golden’ ainda mais ‘golden'.


Deslumbrante visão noturna do Golden Temple



A cena é inusitada e me faz abrir mão de minha macia cama no sufocante dormitório dos estrangeiros para dormir ao relento ao lado dos peregrinos e, assim, curto a brisa e a atmosfera do lugar sob um céu coalhado de estrelas.




Hora de dormir






















Após um dia e meio, tempo para lá de especial e único experenciado neste que foi, certamente, um dos pontos mais altos em termos de religiosidade desta viagem, pego o 1º trem desta viagem (vir para a Índia e não andar de trem não tem graça...) e encaro mais de 9 horas de viagem rumo a segunda maior cidade da Índia: a caótica Nova Delhi.
Desço do trem e me instalo em um muquifo destes que ficam a 100 metros de qualquer rodoviária e ferroviária do mundo, e durmo um sono profundo digno dos guerreiros e dos deuses.
Ao acordar (agora na Índia... hehehe), logo saio para uma caminhada de reconhecimento por entre ruas superlotadas, rickshais e vacas, e vou curtir o clima de Delhi.
Cedo, pego um rickshai e vou às compras e descubro uma das maiores qualidades desta cidade, sua vocação comercial. Compro coisas lindas e incríveis e acho que todos vão curtir muito os bazares que vão rolar em São Paulo e Ribeirão Preto na minha volta.

Agora são 7 horas da noite e me encontro aqui na presença de vocês, Grandes Amigos.
O programa agora é comer uma comidinha totalmente condimentada e apimentada e logo mais dormir para amanhã viver meu último dia de Índia, quando visitarei a Velha Delhi, bairro milenar onde se originou esta cidade, o Museu Nacional da Índia e algumas outras atrações turísticas da cidade.
Depois só restará dormir mais uma noite na terra mais antiga deste planeta para acordar e embarcar nas asas que me levarão de volta à terra do futuro.

Amanhã ainda passo para dizer um tchau para vocês, mas de antemão posso adiantar que esta viagem, após passar por 3 estados indianos e vivenciar 4 idiomas diferentes, foi uma verdadeira volta ao mundo.



Show de cores

BEIJO NO CORACAO

NAMASTE!


SORTE!!!

AMIn

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SonhonÍndia3 - Boletim 6 – Delhi2

E ISSO AÍ, TURMA DA BOA VIAGEM!!!

É doce, não é mole, e não dura pra sempre.
Este é nosso último dia de viagem e não poderia ser mais especial, pois depois de visitar à milenar Old Delhi, o incredible Museu Nacional, a maior mesquita da Índia


Maior mesquita da Índia, Delhi



e de  fotografar meu último filme (vai ter umas 900 fotos pra gente curtir!), ainda mato uma velha vontade que me persegue a 3 viagens: andar de elefante.

Agradeço do fundo do coração as mensagens recebidas de todos que tanto suporte me deram e, para encerrar os contatos, decido fazer uma seleção de sensações e prazeres que somente o pó da estrada traz para aqueles que se aventuram a trilhá-lo.
Espero que curtam:


SENSACOES ÚNICAS E PRESENTES DE UMA VIAGEM MUITO ESPECIAL (ou Tudo o que você não pode encontrar na National Geografic e Discovery Channel)

- ver um varal de bandeirolas tibetanas dançar ao sabor do vento em um pico himalaico de 6000m
- observar o voo majestoso e firme de uma águia no alto de um vale no Himalaia
- andar pelas estreitais ruas milenares de Leh
- ser abençoado em um puja (cerimônia budista) e sentir reverberar a alma a cada batida de tambor
- chorar ao ouvir as palavras proféticas de um holy man do Himalaia
- andar de barco por entre um jardim com milhares de flores de lótus
- chacoalhar em um ônibus indiano superlotado
- receber o sorriso instantâneo, gratuito e puro de um monge tibetano ao cruzar da rua
- ouvir um silêncio absoluto seguido do suspiro coletivo de toda uma multidão entre o agachar e o levantar dos rituais islâmicos
- saborear um momo (tipo de ravióli tibetano) sentado na calcada da rua
- ladear um rio no fundo de um vale no Himalaia entre desfiladeiros gigantes
- viajar de ônibus subindo escarpas himalaicas e sentir frio na barriga ao olhar o precipício
- observar o caminhar silencioso e tranquilo de uma garotinha tibetana com as mãos levadas às costas
- curtir o pôr do sol sentado no ponto mais alto de Leh vendo a cidade pintada de laranja e de pano de fundo um Himalaia nevado
- saborear uma dúzia de damascos frescos em fruta
- ver uma mulher himalaica carregando um feixe enorme de capim na cabeça
- observar uma nuvem invadir silenciosamente um vale do Himalaia
- ouvir o tirintar das pulseiras de canela no andar de uma mulher indiana
- ver o ritual de fé de agachar e de deitar ao chão, centenas de vezes, de um fiel budista
- sentir o cheiro de uma flor de lótus e depois pegar suas pétalas e enviar em uma correspondência perfumada para a pessoa amada
- receber a notícia de que a correspondência chegou
- saborear um jantar tibetano à luz de vela com uma pessoa que talvez você nunca mais veja na vida e que foi seu melhor amigo e confidente por apenas um dia
- pisar fora do aeroporto e sentir cheiro de incenso, e assim ter certeza que se está na Índia
- fotografar os olhos profundos e dramáticos de um mulher shepard
- encontrar um islandês que fala espanhol e que tem um amigo baiano
- presenciar um arco íris num vale do Himalaia
- andar por entre casas de 800 anos no centro antigo de Srinagar
- ler um livro sagrado que chega às suas mãos em pleno berço do budismo
- tomar chá salgado e fumar narguile em uma cabana shepard
- sentir a força de um chuva nas Monções
- andar pelas ladeiras molhadas de Dharamsala sozinho a noite e sentir cheiro de mato molhado
- saborear um típico chá da Caxemira feito de carcamona, gengibre, canela e açafrão
- tomar banho em rio de água de degelo em temperatura de uns 3°C
- observar o profundo céu estrelado do hemisfério norte, em pleno Himalaia, e descobrir que ali também se vê a constelação de Escorpião
- se aquecer em um manto feito de lá tibetana
- tomar um banho muuuito quente depois de umas 30 horas de viagem de ônibus em estradas precárias
- abraçar um alegre habitante do Himalaia com a camisa da seleção brasileira
- receber e enviar emails para pessoas queridas
- caminhar por entre milhares de peregrinos em estreitas estradas costeando uma montanha no Himalaia rumo a um festival hindu sagrado
- sonhar sonhos reveladores de vidas passadas em terras tão antigas
- sentir o corpo todo dolorido depois de horas de viagens sofridas e se olhar no espelho e ver no rosto uma expressão tranquila
- observar um campo gramado e florido do Himalaia na primavera
- chegar a um vale sagrado coberto de neve entre dois montanhas gigantes no Himalaia
- se alegrar ao ver o primeiro pico nevado da viagem
- olhar o Himalaia do alto do avião e ver o costurar do curso de um rio por entre montanhas e vilarejos
- chorar por diversas vezes ao mero olhar de uma paisagem ou ao se lembrar de pessoa querida
- observar a simples picada de uma pulga inflamar e virar bereba só por estar em pleno ambiente desértico
- receber o sorriso gratuito de um simplório habitante do Himalaia
- receber o esperado email da pessoa amada
- ouvir as histórias reais e dramáticas de um jovem israelense
- sentir na pele a força do sol do Himalaia, capaz de secar uma calça de brim em duas horas
- ouvir música indiana enquanto o ônibus percorre sinuosas estradas no Himalaia
- observar o movimento suave de um arrozal à beira de um rio
- ver uma fileira de camponeses com roupa super colorida colhendo palha dourada
- ouvir o mugido de uma vaca e ter a sensação de que ela está dizendo "OM"
- tomar chá com um vendedor de tapetes orientais vendo uma coleção de obras de arte (os próprios tapetes!) curtindo sua sabedoria poliglota e analfabeta
- falar por telefone com a mãe e matar toda saudade do mundo
- observar o andar vagaroso de uma vaca por entre a caótico trânsito de uma rua indiana
- ficar horas e horas em silêncio em uma viagem de ônibus por entre paisagens nunca vistas e pensamentos
- ver uma velha habitante de Leh fazendo, de forma ancestral, um chumaço de lã 'in natura'
- ver um maravilhoso tapete Caxemir pronto após 2 anos e 3 meses do trabalho de 3 pessoas
- negociar tecidos com um oriental
- a solidão de caminhar pelas ruas silenciosas e escuras para pegar um ônibus às 4 da manhã
- o alívio de deitar numa cama gostosa e se enrolar em cobertores quentes depois de 3 dias de viagens exaustivas
- olhar uma mulher lavando roupas em um regato de degelo das montanhas
- ver 3 sikhs andando em uma moto com turbantes super coloridos
- observar o silencioso monastério repousado no alto de uma montanha com picos nevados ao fundo
- dormir em uma barraca num vale do Himalaia com som de rio ao fundo
- sentir-se dentro de uma folhinha de alfaiataria
- ler na camiseta de um morador de Dharamsala:"FREE TIBET"
- a sensação de vazio ao ver fechada a loja onde você compraria aquela desejada estatueta do Budha
- encontrar comida chinesa quando não se aguenta mais comida indiana
- ouvir o caótico som das buzinas em uma caótica rua indiana
- ter bons pensamentos e ter para quem enviá-los
- ver 3 estrelas cadentes em pleno Himalaia
- ouvir o gragear dos corvos
- vestir o odor de uma camiseta cheirosa lavada por você durante o banho do dia anterior
- abrir o email e encontrar mensagens profundas de amigos de sempre
- sentir o toque macio da seda de um tapete oriental
- curtir o suave balanço de um passeio de barco
- admirar uma monja budista sentada em posição de Budha por mais de 10 horas de viagem de ônibus
- ver uma flor de lótus pela primeira vez e sentir seu cheiro
- encontrar um historiador indiano em uma parada de ônibus num vilarejo perdido no Himalaia
- sentir um vazio na alma por observar que o paraíso do Himalaia está em estado de sítio
- dar uma contribuição a um holy man e vê-lo passar o dinheiro sobre 3°olho em sinal de agradecimento
- a sensação de segurança de saber que ao final da jornada se tem um porto seguro para voltar
- chegar a um lugar pela 1ª vez e ter a sensação de já ter vivido ali
- ver as mulheres indianas fazendo os trabalhos mais pesados na construção civil sem perder a feminilidade
- estar em uma cidade onde ocorre um atentado a bomba
- ter o almoço servido por uma mulher indiana
- sentir uma sensação de agradecimento por se sentir uma pessoa privilegiada
- tomar chai (chá preto com leite) em uma fria manhã em uma vila no Himalaia
- comer dal (lentilha com arroz) servido por uma sorridente anciã com traços tibetanos no meio do deserto
- sentir frio na barriga ao encontrar no alto da montanha, em uma estreita estrada, um caminhão fechando a estrada parado com um roda dentro do abismo
- a dor das bolhas nos pés após uma caminhada de 10 horas
- ouvir no acampamento as histórias de um poney man (criador de cavalos) enquanto se come doce de banana caramelada com cobertura de manjar feita pelo melhor cozinheiro do Himalaia (um luxo!!)
- sentir a alma gelar pelo susto que seu cavalo toma em plena cavalgada
- ver o sorriso agradecido de uma pedinte com problemas especiais ao receber apenas umas moedas
- a sensação de descoberta ao ver que no Himalaia também existem desertos e florestas
- entrar em um restaurante e escolher um prato usando apenas a intuição
- sentir cheiro de incenso enquanto escrevo estas palavras
- sentir saudades


OBRIGADO PELA COMPANHIA E PELO PORTO SEGURO DE PODER COMPARTILHAR SENSACÕES, IDEIAS, CHEIROS, GOSTOS, PRAZERES, DESGOSTOS, ILUSÕES, SOLIDÕES E, PRINCIPALMENTE, EMOÇÕES.

FECHO ESTES BOLETINS COM UMA FRASE QUE RECEBO E QUE ME TOCA MUITO, E QUE VEM DE UM 'AMIGO VÉIO' MUITO ESPECIAL, E QUE DIZ O SEGUINTE:

"O UNIVERSO CONSPIRA PARA QUEM OUVE O CORACAO"


ESPERO VOCÊS NA PRÓXIMA VIAGEM!


BEIJO NO CORACAO!!!

NAMASTE FINAL!!!


SORTE!!!


AMIn

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SonhonÍndia3 - Boletim 7 – São Paulo


QUERIDOS PUSTAS AMIGOS

Cá estamos de volta desta linda jornada que vivenciei/vivenciamos.
Muito bom é se vivenciar o momento, nu e cru, do agora, cruel, livre, inusitado, vibrante, como o já.
E compartilhá-lo!!...

...e gozar.

Já chegou ao Brasil meu corpo e, agora, definitivamente, minha alma.

Em verdade, nem pretendia mais escrever, porém nossa viagem maravilhosa e única teve, como todo grande romance, um final dramático e feliz, pois em Nova Delhi perdi meu voo de volta, o que ocasionou uma sucessão de 24 horas de esperas em aeroportos e listas de esperas também nas duas conexões que me aguardavam, sem certeza nenhuma de embarcar, sem dinheiro no bolso e, ao final, surgiu a oportunidade de pegar um voo para Santiago do Chile para só depois embarcar em uma conexão para São Paulo, o que aumentou a viagem em 6 horas.
De positivo nisto tudo foi sobrevoar e conhecer os maravilhosos Andes, super nevados de inverno.
Pusta visão!!!

Depois do susto e da canseira total tudo caminhou para uma chegada imperial.

Viagem incrível, maravilhosa!!!
 
Bom, tô na área, o que é bom demais

BEIJÃO

SORTE!!!

AMi