Quem sou eu

Quem sou eu? Historiador, viajador, fotografador. ViajantePassageiro. Mas o que eu gosto mesmo é de viajar na janelinha... ViajantePassageiro, eis o que todo ser humano é. Ser ViajantePassageiro neste planeta é privilégio de ser humano. Aproveite. Repartir a sabedoria adquirida na caminhada é puro deleite... Abaixo você acompanha relatos feitos durante viagens a um seleto grupo de amigos ao qual você agora faz parte... O viajante está sempre de passagem. O ser humano está sempre de passagem. Vive o minuto o momento o instante porque único. Às vezes esquece que o agora não é sempre, e chora, faz bico, bate o pé, diz que não vai embora. Mas é viajante e por isso passageiro. Lembra que o eterno é pra daqui a pouco e o agora eterno. Sorri e prossegue. Pode entrar que a casa é sua...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

SonhonOriente (2005-2006) - Turquia, Síria, Líbano, Jordânia, Israel, Egito, Índia e Nepal

Dezembro/ 2005






Destinos - Turquia, Síria, Líbano, Jordânia, Israel, territórios palestinos ocupado, Cisjordânia, Egito, Índia e Nepal
Duração - 2 meses




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SonhonOriente - Boletim 1

QUERIDOS PUSTAS AMIGOS

Primeiro quero agradecer todos os emails desejando que nossa viagem seja mesmo ‘duca’.
Adoraria responder um a um, mas aqui as coisas são em dólares.
Bem, hoje faz 10 dias de viagem e de profunda alucinação.



Grande Mesquita Azul


Fiquei 8 dias na Turquia e não tenho palavras para dizer quão incrível é aquele país.
Para quem gosta de História, e eu sou suspeitíssimo, é o paraíso na terra. Por ali passaram mesopotâmicos, Alexandre o grande, gregos, cristãos, cruzados, otomanos, hititas, romanos, fenícios, bizantinos... Ali está Tróia, Éfeso e todas as colônias gregas do período clássico... no centro da cidade presentes egípcios aos reis romanos ... e muitas mesquitas... ou seja, quer fazer uma imersão em História ‘go to Turkey’.

Istambul é um sonho... o Grand Bazaar famosíssimo tem só uns 5000 anos ininterruptos de funcionamento.


Grand Bazaar
 

Fiquei apaixonado por Istambul e ainda tenho 2 dias de lambuja por lá quando for pegar o avião de volta pra casa.

O povo turco é maravilhoso e ama brasileiro de paixão. É do tipo comerciante ao extremo que te pega na rua para conversar e quando você vê já está dentro da loja olhando maravilhosos tapetes orientais. Vi tapete de Us$ 5000... feito de pura seda à mão... dá vontade de levar tudo...
O Grand Bazar é como se fosse a rua Direita toda coberta... quilômetros e quilômetros em ruas cobertas se perdendo e conversando e aprendendo e se divertindo com este pusta povo legal.



 

Grand Bazaar
Hoje tenho Istambul como a capital mais legal que já conheço.

Também vi um show de música oriental incrível... mas incrível mesmo foi o show de dança dervish sufi... manja aqueles homens que ficam rodando no lugar por muitos minutos ?? O giro é demais, uma espécie de transe... tudo tem um profundo sentido de religiosidade.

Arte aqui não se faz por inspiração ou mera matação de tempo e apalpação de ego... arte tem a ver com cosmo... homem tem a ver com cosmo... nós ocidentais não sabemos o que é isso. Pena!!


Dança sufi dervish
      

De Istambul vou para a região do deserto da Capadócia, local de formação geológica à base de arenito e basalto, por onde passaram milhares de rotas comerciais durante milênios entre Ásia Menor e Europa... Ali as pessoas escavavam na rocha suas habitações... um show... Ali se formaram muitos monastérios bizantinos onde monges iam para meditar, meditar e nas horas vagas meditar...

 

Primeiras igrejas cristãs do mundo
 

Também ali surgiram as primeiras igrejas cristãs do mundo com imagens de São Jorge de Capadócia pintados em seus tetos.
Afora o fator histórico, a paisagem é lunática e inacreditável...

Para chegar à Capadócia viajo 20 horas de trem e no vagão divido a cabine com um iraniano de um 65 anos...Memet... lindo... fez questão de repartir sua refeição...



Memet, meu 'irmão' iraniano






Uma amizade silenciosa que dura 20h só feita de olhares, gestos e sorrisos, e ao final do percurso nos despedimos com lágrimas nos olhos... nem uma só palavra... só sentimentos, só humanidade.

 
Cuidado com a CNN!!


Em Urgup, cidade da Capadócia em que conheço Ismir, um ex-motorista de taxi que perde família e saúde num acidente de carro. Abre sua casa para nos receber e oferecer o tradicional turkish café... ele mora numa habitação de mais de 2000 anos encravada na rocha. Mais um encontro feito de olhares, gestos, sorrisos e aroma de café... nem uma só palavra. Ser humano é legal! 



Habitante das milenares habitações da Capadócia


 
Como vêem, as notícias normalmente são mais feias que a realidade... afinal, se fosse diferente será que elas venderiam tanto??!!


Imagens do Deserto da Capadócia



Aqui também tem um mercado do tipo Grand Bazaar, mas aqui turistas estrangeiros pouco são vistos... 10 quilômetros de mercado cobertos de todos os produtos que se pode imaginar...







Agora estou na Síria, em Aleppo, cidade de não menos de 6000 anos...
Vou ao Museu Nacional e vejo a placa de barro em que está gravada a primeira escrita da humanidade... estamos à beira do rio Eufrates e neste museu vejo traços das primeiras civilizações.. peças de 9000 anos não são incomuns.... assírios, hititas, amoritas, cananitas...






Bazar de Allepo
Caos total na real. No trânsito, do lado de fora, aqui manda quem buzina primeiro...
Aqui tenho a sensação de que finamente cheguei ao Oriente... Turquia fica entre ocidente e oriente e não é o imaginário de oriente que procuramos. Lá o contraste é geral: mulher de burka passando em frente de outdoor com mulher ocidental seminua provocante. Aqui é todo mundo de lenço na cabeça, burka e roupa de árabe... Aliás, primeira coisa que faço ao chegar é comprar minha saia nova (galabeia, roupa tipo árabe) e um turbante... porém, mesmo vestido de árabe os caras olham e perguntam se sou italiano, holandês... quando digo que sou brasileiro abrem enorme sorriso e vêem conversar. Eles falam pouco inglês e eu pouquísssssimo árabe, mas o papo sai! E como sai...
Estou apaixonado por este país e me sinto como se já tivesse vivido aqui (será que vivi?!?)

A última do dia.... entro em um restaurante, como, me divirto com todos, todos comigo... falou brasileiro, automaticamente você ouve: Ronaldo, Ronaldinho (dizem ‘Ronalldino’)...

Então peço informação como chegar no meu hotel... o dono do restaurante tenta explicar, não consegue...sai comigo na rua, chama um taxi, entra comigo no taxi... quando penso até na possibilidade de um sequestro, o carro para em frente ao meu hotel. Vou pagar e aí a maior das surpresas: o motorista diz que a corrida está paga pelo dono do restaurante.

É mole ou quer mais...

Isto é oriente...
Isto a CNN não fala.

Amanhã sigo para Palmira, ruína romana no centro do deserto da Síria... ainda amanhã chego em Damasco.



Mulheres sírias trajando burka

Espero que o segundo boletim demore menos... Hermes, o deus da comunicação é quem manda...
Adilsão, fala pra mãe que se ela me quer feliz, continue torcendo para que eu volte só no dia 31/1
Amo ter amigos com quem posso DIVIDIR SONHOS e mandar beijos no coração.

AMO TODOS VOCÊS
SARA MALEK (o som é este, a escrita maybe...)
SORTE!!!

Vamos em frente

AMiLTON

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SonhonOriente - Boletim 2


Queridos Pustas Amigos

SARAMALEK

Tudo caminha maravilhosamente.
Agora estou na Jordânia, a 50 km de Jerusalém e Belém, em plena véspera de Natal. Se me perguntar se sonhei isto algum dia, nego até a morte. Mas o sonho é real.



Ruína romana de Palmira

Do último boletim em Aleppo na Síria vou para Palmira, também na Síria. Uma ruína romana de 400 a.C. descomunal. Lá na época viveram 100.000 pessoas, e atualmente a população não excede os 65.000. A rainha Zanúbia derrota os romanos e 3000 anos depois ainda está na crista.


Noite muito especial em uma tenda beduína
Ali tive uma das mais preciosas experiências da vida: durmo em uma  tenda beduína. Aliás, saiba que pernoitar em uma tenda beduína é super fácil: basta pagar Us$80, e pronto. O detalhe é que Hussein, my brother do deserto, simplesmente olha para nossas caras e nos convida gentilmente para uma noite entre beduínos. Ele aparece na ruína do alto de seu camelo e grita: ”Brasileiro, brasileiro!!”, e, então, oferece uma volta grátis. Desconfio, mas após dez minutos de papo ele dá sua ‘palavra de beduíno’, que é lei, segundo ele, e uma hora depois estamos tomando chá admirando Palmira toda iluminada ao anoitecer da frente de um oásis no deserto da Síria.

Nosso anfitrião prepara uma espécie de galinhada, ‘canta’ minha amiga, depois canta e toca junto a seus oito amigos convidados e, à na cola de ótimo árak (bebida à base de anis), dançamos noite adentro.


Palmira, de noite
Depois desta pérola de presente da vida, e de ter ganho irmão novo no mundo, sigo para Damasco, capital Síria de seus 6000 anos. Uma cidade parecida com São Paulo pelo caos urbano e aparência de São João com Ipiranga, mas o trânsito à base de buzinaço e pessoas disputando cada metro de asfalto só mesmo aqui.





Ali vou ao Museu Nacional onde vejo peças mesopotâmicas, alexandrinas, romanas, cananitas, amoritas, gregas, bizantinas, árabes, otomanas e afins, além de preciosa coleção pré-histórica com direito a fóssil de Homo Sapiens.
A peça mais importante que vejo foi o primeiro alfabeto cuneiforme da humanidade, o sumério, gravado em placa de barro. Para quem estudou nos livros, ver em loco é mucho loco (haha, rimou...rs)


Museu Nacional de Damasco
Após dois dias de Damasco, vou para o Líbano que fica uns 70 km dali. Antiga morada dos fenícios, o Líbano nos dá o prazer e o privilégio de conhecermos Biblos, uma cidade de 8000 anos, uma das mais antigas do planeta. Biblos teve estreita relação comercial e cultural com o Egito e várias cartas e presentes entre reis e faraós estão no Museu Nacional de Beirute, que, aliás, tem um acervo inacreditável.
Falando em cartas, foram os fenícios que criaram o primeiro alfabeto da humanidade, passaram este para os gregos, e estes para todo ocidente.
Fenícia, atual Líbano, foi sempre terra de passagem de muitos povos e invadida por outros tantos povos mesopotâmicos e mediterrâneos, e isto se mostra nas artes que misturam elementos de cada povo. Sincretismo fantástico.


O Líbano é um país de uns 400 km de comprimento (acredite!) todo costeando o Mar Mediterrâneo.  


Litoral de Beirute

Em 4 horas vou até a fronteira sul com Israel, passando por Saida (antiga Sidon) e por Tyro (antiga capital fenícia Sur).
Vou de taxi e sabe quem é o meu motorista? Um antigo guerrilheiro do Hezbollah.
EEEh, é doce mas não é mole. Tudo ao vivo!

Tatuagem de um ex-guerrilheiro do Hezbollah


No extremo sul do país chego a 50 km da fronteira e visualizo a faixa de terra tão disputada por libaneses e judeus. Ali é área de guerra.

Ao fundo, marcas da guerra cívil libanesa.
Em primeiro plano, ruína romana
Não fosse apenas as eternas desavenças com o eterno inimigo Israel, o Líbano, particularmente a capital Beirute, ainda foi todo destruído pela guerra civil que se findou em 1985, mas os prédios condenados ‘cravadézimos’ de balas ainda estão se equilibrando de pé. A paisagem de muitas ruas é feita de prédios e mais prédios arruinados. O governo tem até um ‘Ministério da reconstrução’, que atua em todas as cidades, mas é em Beirute que pode ser visto em ação, pois a cidade mais parece um canteiro de obras. Estão surgindo no lugar dos escombros de guerra edifícios ‘modernézimos’ que denunciam que a cidade, em uns 15 anos, deve ter a aparência de uma Monte Carlo da vida. Muita grana grossa rola nas mãos de uma parte da população. Vi Ferrari e Porshe Carrero na rua, cassinos, Hard Rock e afins. Também foi o único lugar do Oriente Médio onde vi crianças pedindo esmola. Contradição capitalista. Aparentemente, os caras ‘jogaram a toalha’ legal para o ocidente.

O Líbano é um país super legal, mas está em guerra com Israel, e este clima pesado é sentido no ar, no ônibus, quando o motorista pede para não fotografar as ruas, a cada esquina principal, onde invariavelmente tem um tanque estacionado, nas barreiras do exército nas estradas, com obrigatoriedade de mostrar o passaporte. Pressão de guerra: é desconhecido, talvez inédito, para nós que temos contato com outro tipo de guerra em nosso país. Talvez por ser tão desconhecido sinto uma puta pressão ao estar ali, e saio do país e ‘quase’ sinto ser mais legal que quando cheguei.


Ruína romana de Tyro
 

Saí começando a nevar, pois o norte do país é muito alto e tem algumas estações de esqui. Para um ignorante, como eu, ver neve em pleno deserto é quase um susto.
Agora estou em Amman, capital da Jordânia com seus 6000 anos, também das mais antigas da região da Palestina. Aqui ocorreu aquele atentado faz um mês e meio em uma festa de casamento num hotel 5 estrelas. Como estou em um albergue, tudo calmo.
Assuntos bíblicos aqui são mato. Rio Jordão, local do batismo do Cristo, ruínas de Salomão,... tudo está aqui.
Esta noite previsão de nevar (brrrrrr......)

Depois de amanhã vou para Jerusalém, Hebron, Belém e Jericó (esta sim, a cidade mais antiga do planeta). Estou esperando passar o Natal, pois Israel está endurecendo a vigilância nas fronteiras e filas de carros estão se formando.


Mártires do Hezbollah
Sobre povos maravilhosos e pessoas incríveis, acabo de ser abordado na rua por um jordaniano muito simpático que roda as ruas gentilmente para me ajudar a achar um telefone para eu ligar pra mamma nesta véspera de Natal,e não fosse ele, este boletim não teria acontecido...
Uma vez mais: cuidado com a CNN....



Bem, fim deste histórico boletim...
Fica a sugestão de que quando vocês responderem que façam para todos da lista para que se forme uma espécie de lista de bate-papo e cada um veja se a ideia geral é a da CNN ou se ainda temos alguma autonomia de pensamento. Respondam também comentando as ideias expostas.
Na volta, que tal uma festa com todos da lista???

Escrevo quando puder, talvez agora no vizinho Egito.

OBRIGADO POR VOCÊS EXISTIREM
Beijos no coração.
Pusta Natal.
Super entrada de 2006

SALAM

AMiLTON


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SonhonOriente - Boletim 3



Simpática jordaniana

SARAMALEK pustas amigos!

Segue mais um boletim direto do Oriente que você não vê na CNN... aliás, cuidado com ela...

No último boletim acabava de chegar em Amman, capital da Jordânia, um dia antes da noite de Natal.
Aqui, por ser um país muçulmano, quase ninguém comemora a data e, assim, fico livre, pelo menos neste ano, da avalanche de apelos comerciais para comemorar um momento cósmico que não se limita aos ‘bisnizzz’...
A minha comemoração é singela, porém significativa. Compro uma garrafa de vinho da região, e quando vou tomá-la noto que era, nada menos, que de Bethlehem, mais conhecida por nós ocidentais como Belém. Ou seja, noite de Natal com vinho direto da terra do ‘Homê’.
A previsão anterior de nevar não se confirma (thanks god!), mas em compensação são três dias de chuva de rachar a alma de frio.
A média é de 5 graus centígrados, o que seria suportável não fosse o vento que joga a sensação térmica perto de menos de zero. Mas tem dado pra suportar na boa.
Nestes dias de Amman conheço o Museu Nacional da Jordânia, local que me regozijei com peças que vejo a tanto tempo nos livros e sonho um dia ver.

Fragmentos dos pegaminhos
do Mar Morto
As peças mais importantes do museu são os fragmentos dos pergaminhos do Mar Morto, raridade total, que fazia parte da biblioteca dos Essênios, povo nômade que vivia no deserto e criou uma dissidência junto aos judeus ortodoxos, por volta do ano 300 a.C., por estes terem se rendido ao helenismo, criando uma espécie de irmandade secreta no deserto para retomar o antigo judaísmo dos tempos de Moises. Há místicos que dizem que o Cristo se juntou a eles, os conhecidos ‘terapeutas’ (por fazerem curas através da energização pelas mãos) durante os períodos em que se retirou no deserto.
A biblioteca foi achada a alguns quilômetros de Amman, em 1947, em cavernas que continham vasos e ânforas recheadas de pergaminhos de papiros, muitos destes os originais dos livros do Velho Testamento.
Nothing so bad.






Achado de 10 mil anos do acervo do
Museu Nacional de Amman















Outras peças de até 10 mil anos de datação fazem parte do fantástico acervo deste singelo museu que sequer tem guias ilustrados para oferecer aos turistas. Tive que transgredir uma regra do museu e fotografar escondido algumas de suas peças para mostrar democraticamente a todos, afinal sempre sou o primeiro a comprar os guias dos museus pelos quais passo, agora, sair sem registros é quase inaceitável.




Depois de Amman vou direto para um dos destinos mais esperados (e porque não dizer ‘temidos’) da viagem: Israel. Para os muçulmanos, Palestina ocupada.
Depois de quase duas horas de interrogatórios ‘leves’ para explicar os objetos árabes que carrego em minha mochila e os vistos de Síria e Líbano, delatados em meu passaporte, vou direto para Jerusalém, a cidade mais incrível que já pus os pés.

Velha Jerusalém
  

Difícil é, redundantemente, se referir à última cidade visitada como se sempre fosse a mais incrível da viagem, mas Jerusalém com seus 5000 anos, é assombrosamente mágica.
Tive o prazer concedido pelos deuses de ficar num hotel dentro da cidade antiga, murada e semelhante àquela reproduzida no filme Cruzadas, de onde ganhei direito a vista exclusiva e luminosa, durante a noite, da maravilhosa Mesquita do Dommo Dourado.
A cidade das três religiões (cristã, muçulmana e judaica) é a própria babel, com 80 % de muçulmanos, 15% de judeus e o restante de cristãos (dados não oficiais, mas constatados nas ruas)
Dentro dos muros da cidade existe um imenso mercado que cobre as apertadas ruas com todo tipo de produtos, cores e aromas muito semelhante aos mercados de Istambul, Aleppo e Damasco, mas com um charme incomparável.


Mesquita do Dommo Dourado

A cidade vibra pelos chãos e paredes e a confusão entre as religiões está literalmente no ar. Ora se ouve os sinos das igrejas católicas e logo, por sobre estes, o chamado chorosa vindo dos minaretes das mesquitas muçulmanas convocando as pessoas a orar em direção a Meca cinco vezes ao dia. (aliás, estou neste momento ouvido o 5º chamado do dia). Atualmente o chamado é feito por alto-falantes, mas antes era feito a plenos pulmões.
São árabes, judeus, turistas disputando os estreitos espaços das ruas em meio aos gritos típicos das feiras que conhecemos, tudo entremeado pelo aroma dos perfumes dos boticários (que fazem perfumes na hora) e das especiarias e temperos expostos como obras de arte.
Jerusalém tem a terceira mesquita mais importante do islã, do Dommo Dourado, e por isso é local sagrado de peregrinação para os muçulmanos. A mesquita fica de um dos lados do famoso Muro das Lamentações.

Afrescos da Mesquita do Dommo
Ou seja, de um lado a cena é de judeus orando com suas caras coladas ao muro enquanto, do outro, centenas de islâmicos chegam diariamente para fazer uma mera oração em direção a Meca. Irmãos que vivem em guerra separados por um muro. Sair de um universo e entrar em outro tão rapidamente é surreal.

A cidade é super policiada e, nas estreitas ruas de acesso a aos locais sagrados, turistas passam por barreiras policiais e detectores de metais. Agentes muito jovens a paisana, segurando metralhadoras portáteis de última geração, são vistos em todos os pontos religiosos, portões de acesso à cidade e Via Dolorosa, caminho percorrido pelo Cristo em sua paixão.


Muro das Lamentações
É contrastante a cidade mais religiosa ser a mais conflituosa. Porém, minha percepção, que pode chocar com a de muitos, é que ali existe muito de religião e muito pouco de religiosidade. A prova disto é a juventude bruta e extremamente pronta pra guerra que encontramos pelas ruas. Garotos e adolescentes super hostis que andam em bandos e provocam os turistas como em lugar nenhum dos cinco países em que passei.


Um garoto de uns 7 anos de idade olha no fundo de meus olhos e faz sinal de cortar o pescoço quando nego a ele uma moeda que ele insiste em receber por um serviço turístico que não quero contratar. Violência visceral. De alma.
Todo jovem israelense é soldado em potencial. A filosofia é simples: para viver ao lado de tantos inimigos se faz necessário estar pronto, agora, para a guerra.

Ruas de Jerusalém
Uma geração doente resultado da guerra em nome de Deus.
Assim são os homens. Bicho doido!


De Jerusalém vou pra Belém, a 20 minutos do centro de Jerusalém, já na região da Cisjordânia e onde atualmente está sendo erguido o famigerado Muro (da vergonha!) de Sharon. Belém, segundo o motorista do taxi, ‘agora vive na prisão’. O esforço de segurança israelense se deve ao fato de Belém ser considerado grande foco de resistência à ocupação de Israel.


Moradores de Belém
Ali está a Igreja da Natividade, suposto local do nascimento do Cristo. A cidade é um doce e seus habitantes mostram um ar mais relaxado que os de Jerusalém. A cidade é antiga e outro daqueles mercados a céu aberto, e passear por entre pessoas oferecendo frutas e pães, e não admitindo pagamento, é puro deleite. Me sinto, verdadeiramente, em casa.


Depois de três dias de Israel, volto a Amman e os planos são de amanhã partir para o sul do país em direção a um dos locais mais esperados da viagem: Petra, vale de palácios e túmulos escavados na rocha, por entre penhascos, que, há milênios, observa a passagem das caravanas comerciais vindas do Egito e da Palestina e que se eternizou pela aparição no filme ‘Indiana Jones e os caçadores da arca perdida’. 
A viagem segue, e todos nós com ela.



Comerciante de Belém


No mais, agora acho que só escrevo do Cairo daqui a uma semana.

BEIJO NO CORAÇÃO DE TODOS

SHALOM
SHOCRAN
SARAMALEK
SORTE



AMiLTON

 
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SonhonOriente - Boletim 4 - Cairo
Segunda-feira, 2 de Janeiro de 2006 20:03



Queridos Pustas amigos

SARAMALEKO!

A todos vocês um pusta ANO NOVO!!!

Bem, como veem pelo título do boletim, meu ano começa realmente com tudo, afinal entrar no primeiro dia do ano colocando os pés no Cairo. e no quarto continente a conhecer na vida, a mãe África, é mais que um sonho, é um privilégio. A certeza de que ‘alguéns’ lá em cima gosta muuuito de mim só se reforça.



Mar Morto
  


Antes, saio de Amman, capital da Jordânia, e faço uma viagem de taxi alucinante. Cruzo toda a Jordânia beirando o Mar Morto em direção ao sul do país, um litoral ‘incrediblis’, lindo, que fica 500 metros abaixo do nível do oceano... Pode ??? Sim, pode.
A viagem é ainda melhor por conta do Ali, nosso espirituoso, sensível e simpático motorista jordaniano, sempre bem-humorado e que vai parando pelo caminho para comprarmos frutas e tomates plantados na beira da estrada. Uma dessas paradas é em uma comunidade beduína.
Além de tudo, Ali tinha opiniões muito interessantes sobre islamismo, Bush, Sadam Hussein e cia... divido estas com vocês num próximo momento...



Grupo de beduínos
Porém, o maior ensinamento que Ali nos passa é a frase ‘ALL RRAM DULEL'A’ (som em português), que significa ‘Agradeço ao meu Deus por coisas como... o ar que respiro, a saúde que tenho, por tudo, inclusive pelos infortúnios que aparecem no transcorrer da vida e que tantos ensinamentos trazem’.
Para um oriental, os percalços da vida têm valor de ‘mestres’ e é por este motivo que evitam maldizer as chances de aprendizado que a vida oferece, mesmo que seu sabor seja amargo. Como veem, ganho mais um irmão do deserto!!


Antes do Cairo, vou ao encontro de um dos mais sonhados lugares desta viagem:  Petra. Como mencionado no último boletim, Petra ganha fama por emprestar sua impressionante beleza ao cenário de Indiana Jones em sua busca pelo Santo Graal. É um vale entre desfiladeiros de montanhas muito apertado, uns 10 metros entre paredes de 40 metros de altura, em que você vai andando e, de repente, vê descortinar na sua frente palácios e túmulos impressionantemente escavados na rocha de arenito.

 

Meu mortorista jordaniano
(Desculpe, mas eu só viajo de Mercedes...)
Porém, muito mais do que por Hollywood, Petra é eternizada pelas famosas cenas bíblicas que ali aconteceram, como quando a água jorra do chão ao bater do cajado no solo por Moises (e por isso o vale onde se localiza recebe o nome Wadi Musa ou ‘Vale de Moises’), ou por ter sido local de cobrança de pedágio das caravanas comerciais que cruzavam seus vales nas viagens entre a Palestina e o Egito, e ainda por ter feito parte das conquistas do Império romano.
Confesso que o deslumbramento diante deste lugar faz de Petra um dos sonhos mais fantásticos realizados nesta viagem. Ou seja, quase dá prá voltar pra casa depois desta visita.





Petra
Lugar ‘incredibles’ na Jordânia. Quem quer mais visões do lugar entre em www.arabias.com.br, depois turismo, depois Jordânia.
Fabuloso!!!

Depois de dois dias na região de Petra, desço a serra e encontro o famoso Mar Vermelho que, pasmem, é azul!!! ‘Zuro por deus’.
Tinha planos iniciais de ficar em Aqaba (onde a estrada acaba ...hehehe) por uns dias para tentar um mergulho na maior visibilidade ao fundo do mar do planeta... são 100 metros... (detalhe: Fernando de Noronha, um dos mergulhos mais incríveis do Brasil alcança 50 metros), mas no inverno não dá coragem.











Petra















Pego, então, um ferryboat e, depois de uma 3 horas, chego na Península do Sinai, isso mesmo, aquela em que Moises recebe as tábuas dos 10 mandamentos. Depois de descer da embarcação, pego um ônibus e cruzo o Deserto do Sinai, o quarto deserto da viagem, e chego ao Egito e na ‘Mama África’.
Em terras egípcias, chego ao Cairo à meia-noite, e pela manhã vou conhecer sem perder tempo o inenarrável Museu Nacional do Cairo. Precisa falar algo mais? Tudo que, em termos de egiptologia, não está no Museu britânico e no Louvre está ali. Sala do Tutancâmon, pilhas de múmias... Show!!




Mercado Khan el- Kalili
Depois vou ao famoso mercado egípcio Khan Al Kalili, outro daqueles mercados orientais malucos em que a gente se diverte muito com o assédio dos vendedores e se maravilha com a originalidade dos artigos oferecidos. Porém, a Grande Cairo tem uma ‘pequena diferença’ dos outros lugares: concentra em suas ruas a bagatela de 30 MILHÕES DE HABITANTES... é, meu amigo, é isso mesmo... se pensa que Sampa tem muito gente, não sabe de nada... a visão do alto dos viadutos é inacreditável, assim como o número de carros e o frenético e supercongestionado trânsito, claro, sempre à base de buzina...

Pelas ruas muita gente vestida de forma árabe e ocidental, e tudo ao mesmo tempo... é inacreditavelmente caótico, e proporcionalmente divertido...
Os egípcios são muito hospitaleiros e simpáticos, principalmente quando falamos a frase mágica... SOU BRASILEIRO.

Olha, essa frase abre todas as portas no mundo todo, e isso vejo em todos os países por onde passo. Somos realmente um povo amado pelos outros e o mero soar desta frase faz com que sorrisos se abram imediatamente. Podemos nos orgulhar de nossa origem e pensar que, por termos vindo a este planeta nesta localização geográfica, somos realmente queridos por ‘alguéns’ lá em cima.

Olha a coincidência (ops! será que elas realmente existem? Outro dia ouvi dizer que ‘Deus se mostra justamente nas coincidências’...). Agora à noite, vindo para o hotel, paro pra pedir informação na rua e o cara vira pra mim e diz que trabalhou até este ano na embaixada do Egito em Brasília e no Itamaraty...
Poidi fróidi??



Verdejante margem do Rio Nilo, Cairo

Com imensa alegria, ele diz em bom português que ama os brasileiros, o Brasil e tudo que nos envolve.
Delícia, né?!!

Amanhã é dia de pirâmides e esfinges e afins...depois é só subir o rio Nilo até a cidade de Aswan, meu destino final, antes de tentar pegar um navio que me leve pra Índia.

A caminhada continua, e nós continuamos todos juntos

No mais fica um beijo no coração de todos e a certeza de que mais vale morrer por um sonho que evitar sonhar para se manter vivo.
O fato de eu ter entrado no Líbano 12 dias depois de explodir um carro bomba, e que no dia 31/12 explodiram bombas simultaneamente em Londres, Israel e indonésia só reforça a certeza de que hoje é um ótimo dia para se estar vivo... e que também é um ótimo dia para se morrer... claro, desde que se esteja sonhando.

Um sonho só é sonho quando muitos sonham um mesmo sonho.


In SHALLA
SALAMME
SALAMALEKO
SHOCRAN
SHALLON
SORTE!!!

beijo nos corações

AMiLTON


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SonhonOriente - Boletim 5 - Luxor
Segunda-feira, 9 de Janeiro de 2006 11:57


Caros pustas amigos

SARAMALEKO!!!


Oh, sonho bom este que estou vivendo!

Último boletim escrevo do Cairo, e após conhecer o fascinante museu de lá, vou, claro, visitar as pirâmides. E vou falar um negocio, é dukarambalho!!



Esfinge e grandes pirâmides de Guizé
 

A área onde estão as pirâmides e a esfinge, em Guizé, localidade num pedaço de Saara a 40h minutos do centro do Cairo (com trânsito excelente, claro..), concentra um conjunto de nove pirâmides, além da própria esfinge. Dentre estas as mais famosas e fotografadas: Quefrin, Miquerino e Quéops.
Cada uma delas é feita de um tipo de material, granito, calcário e alabastro, e juntas somam nada menos que nove milhões de blocos pesando cada bloco uma média de 1,5 tonelada. Detalhe: todos os blocos vieram de Luxor, há uns 900km de distância ou nove horas de trem.

 




Pirâmide de Miquerino
(observe a proporção das pessoas à esquerda)
Todas desceram o Nilo em barcos de madeira que levariam no máximo duas pedras por viagem.Quer calcular o número de viagens?
A versão sustentada pelos guias turísticos é que foram necessários dez anos para as pedras serem cortadas, outros dez para o transporte, e ainda mais dez para o empilhamento.(?). Números que criam mais dúvidas que as que já trazemos na mochila, principalmente quando você arrisca conferir estes números na ponta do lápis e vê em poucas operações que os números são realmente ‘faraônicos’.
Isto mesmo, esta cultura ancestral egípcia é de tirar o fôlego.






Máscara egípcia
Aliás, sem fôlego fico mesmo no momento em que entro na pirâmide de Quefrin. Meus amigos, até os mais céticos sentem a roseira balançar ali dentro. Para você chegar em uma espécie de câmara funerária no interior da pirâmide é necessário caminhar uns 20 minutos em posição curvada, quase agachada, ao longo de um estreito e infinito corredor de uns 150 metros rumo ao interior da Terra. Indescritível a energia do lugar. Mágico, tenha certeza!
















A área onde ficam as pirâmides é enorme, próximo de 10 alqueires de bom pedaço de deserto do Saara (o quinto deserto desta viagem). Foi ainda mais especial visitar a área do alto de um camelo. Aliás, que delícia é andar de camelo... 




Vila núbia
Bem, depois de um dia inteiro imerso nesta mágica experiência, à noite pego um trem rumo a uma viagem de 13h30 rumo ao sul do país, ao longo do Nilo, até a fronteira do país com o Sudão onde fica a cidade turística mais ao sul, a famosa Aswan, que fica aproxima àquele famoso templo de três figuras faraônicas gigantes sentadas em frente ao Nilo.
 





Simpáticas núbias
Naquela área vive uma população de origem Núbia, comunidade negra muçulmana cheia daqueles sorrisos abertos e roupas multicores que logo vem à mente quando pensamos em África. Ao chegar ali, e sentir tudo isso, somado aos mais de 35 graus centígrados de sol a pino, me sento definitivamente na África.


 


Especiarias ao estilo núbio
Próximo a cidade existem duas ilhotas dentro do Nilo que abrigam templos e ruínas incríveis que, junto da comunidade núbia vizinha à cidade, são as atrações da cidade.















Faluca


Depois de dois dias em Aswan, pego uma faluca, um pequeno veleiro típico do Nilo, e começo a descida do rio rumo ao Cairo. A faluca lembra um barco tipo laser tamanho família, onde umas dez pessoas viajam deitadas sobre um pranchão coberto por colchões e almofadas. Puro deleite, brisa na cara, nenhum barulho de motor. Cenário? Um rio Nilo azul profundo com margens verdejantes habitadas por raros camelos pastando despreocupados ao longo das margens da Mãe de toda a vida local...
É mole ou quer mais...


No fim do dia, o timoneiro encosta o barco na margem e começa os preparativos para uma noite a céu aberto com direito a fogueira na beira do rio e sopa bem quente para ver a temperatura cair abaixo de zero ao longo da madrugada. Uma noite inteira curtindo um dos céus mais estrelados já visto na vida e acompanhar deitado na areia a caminhada das ‘3 Marias’ pelo céu da África.


 

'Forgado' à bordo da faluca
Pela manhã, desembarco e vou rumo a Luxor, a cidade/templo mais importante do alto Nilo com sua coleção de atrações imperdíveis, como o Vale dos Reis, Karnac,...
O percurso que a van faz para chegar nessas atrações passa por alguns povoados de cenário extremamente ‘árabe’, com todos os homens usando galabeia (a típica roupa árabe tipo camisolão, a qual, aliás, uso todos os dias!), turbantes, burkas , lenços... Puro Oriente Médio.
Incrível perceber que o extremo de oriente que encontro nesta viagem foi justamente na África... eeeh mundinho dodjo... e lindo...

O Egito é deleite garantido, comida apimentadíssima, gente que ama receber o visitante (em particular os brasileiros), polícia corrupta, ruas lotadas, mercados e muito muito sorriso. Vale um esforço vir dar uma olhada.
É verdade que é preciso ficar de olho nos golpistas e nas agências de turismo que, não raramente, prometem muito e nem sempre cumprem tanto.

Amanhã conhecerei Karnac e à noite tomo o trem com destino ao Cairo novamente. Meu plano de ir de navio do Mar Vermelho para Mumbai, na Índia, não deu certo, pois dali só saem navios cargueiros.





Templo nas proximidade do Vale dos Reis
 

 
Já estou de passagem marcada e dia 11 voo para Índia, mas antes farei escala técnica nos Emirados Árabes (é mole, ganhei este bônus de viagem... ficarei no aeroporto por umas cinco horas e, claro, tentarei dar um giro pelo por Abu Dhabi, capital do mais rico país do mundo em proporção PIB/população.
A partir do próximo a paisagem muda e tudo será Índia. ´

Minha companheira de viagem volta hoje para o Brasil e eu sigo o vento que sopra na direção do sol nascente...
Começa aqui a minha viagem solitária, pessoal e espiritual. Não que até aqui não tenha sido, mas alguma coisa me diz que algo muito novo, e talvez muito antigo, está reservado naquelas antigas terras.

Hoje faz exato um mês de minha partida e o que posso dizer é que os céus e a Terra têm sido muito bons, muito camaradas comigo...  Todos os dias foram incrivelmente únicos, e conhecer estes povos fascinantes tem sido em verdade um privilégio.

Então, ‘moscada’, a palavra de agora é Índia.

Bem, hoje comemoro também a foto de número 1300 e entro na Índia e Nepal com mais 700 imagens para serem captadas. (Coisas do velho equipamento fotográfico mecânico...)
No mais fica a vontade de encontrar cada membro desta lista para sentar e falar e falar e falar... e, quando isto acontecer, vai ser demais..

E não esqueçam jamais... CUIDADO COM A CNN...

Obrigado por vocês existirem


In SHALA
SALLAM
SHOKRAN
SALAMALEKO
SORTE!!!

Beijo no coração

AMiLTON


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SonhonOriente - Boletim 6 - Aurangabadi
Domingo, 15 de Janeiro de 2006 8:30




NAMASTEH!!!

Meus queridos irmãos pustas amigos!!!

Estou na ÍNDIA!!!!!!!!!!!!

... neste momento em Aurangabadi, uma cidadezinha distante umas dez horas de Mumbai com seus módicos DEZ MILHÕES de habitantes. Por aqui tudo obedece estas mega dimensões, afinal para um país com 1,1 bilhões de habitantes ‘cidadezinha’ tem mais de milhão.



Templo de Luxor
   



No último boletim falo de Luxor, no médio Nilo, cidade de templos estonteantes. No dia seguinte, ao relatar o boletim, ganho novo presente da mãe estrada e tenho o prazer de acompanhar a celebração do Ano Novo islâmico pelas ruas da cidade justo no dia do aniversário do meu irmão Adilsão. Como os muçulmanos usam um calendário lunar, cada ano esta comemoração cai em uma data diferente, daí a raridade de ter pego mais este evento.



Celebração do Ano Novo muçulmano 
A celebração é bastante sui generis e começa às 6h30 da manhã com algumas ruas centrais da cidade cobertas de tapetes, onde é feita a primeira oração do ano em direção a Meca, tudo bem ao estilo islâmico do tipo agacha, ajoelha, testa no chão e levanta!

Logo após as orações começa a ‘festa’, propriamente dita, com a população tomando as ruas da cidade para acompanhar dezenas de sacrifícios de carneiros e vacas a céu aberto. O animal sacrificado é dividido em cinco partes tendo como destino, cada parte, os familiares, amigos, sacerdotes e pessoas pobres da comunidade.
Antes do sacrifício, o animal é tratado durante três anos como verdadeiro membro da família e o ato de sacrificá-lo, em nome de Allah, e distribuir suas partes entre os seus, é considerado uma verdadeira bênção.

As cenas de sacrifício animal que, em verdade, por tê-las presenciado me parecem mais chocantes em palavras do que ao vivo, até pela energia ancestral que carregam em si, são entremeadas por uma grande algazarra feita pelas crianças, elas que são maioria nas ruas onde se movimentam com a liberdade e desenvoltura dos donos da festa.



Celebração do Ano Novo muçulmano 
Pelas ruas são montados parques de diversão e por todo lado bandos de crianças exibem seus presentes ganhos, suas roupas novas, o dinheiro que enchem seus bolsos e, sem a vigilância dos adultos, somente neste dia tem a permissão de fazer o que bem entender.
Espírito de carnaval em pelo Oriente Médio!!
Invadem os restaurantes e ocupam todas as mesas. Adultos que se atrevem a entrar nos restaurantes são impiedosamente vaiados. Exatamente assim, minha companheira de viagem e eu fomos recebidos ao, ingenuamente, entrarmos em um restaurante atrás de uma singela refeição.
Ela ainda teve sua bunda "assaltada" pela pequena mão boba de um garotinho. Como o dia é deles, nada foi além de uma sonora gargalhada!


Pelas ruas, por toda parte, motos barulhentas andam em alta velocidade portando quatro e até cinco garotos traslocados fazendo peripécias e exibições gratuitas em meio à multidão.
Esta comemoração dura quatro dias e acontece em todo o mundo islâmico. No Egito é chamada de Fast e em outros países é conhecida como Ast e está ligada às comemorações que envolvem a grande peregrinação anual a Meca (Raj), aquela que todo muçulmano deve procurar fazer pelo menos uma vez na vida.
Esta semana, durante a peregrinação, os jornais noticiam uma pequena tragédia que resulta na morte de mais de cem pessoas por pisoteamento  após um corre-corre começar no meio da multidão. Se pensarmos que a peregrinação envolve três milhões de muçulmanos, tragédias que envolvem centenas de pessoas ‘quase’ podem ser consideradas pequenos eventos.
Talvez no Brasil vocês estejam acompanhando pela T.V. cenas deste que é dos maiores eventos religiosos do planeta. Eu acho o máximo!
Sonhei em conhecer a Arábia Saudita e sua Meca ainda nesta viagem, mas o sonho durou apenas um telefone para a embaixada árabe em Brasília, onde fui informado que as duas únicas possibilidades de visitar o país é peregrinando a Meca, exclusividade dos muçulmanos ou, claro, através dos business...




Templo de Luxor

De Luxor pego um trem e, após nove horas de viagem, chego ao Cairo. Ali começa minha jornada solitária após minha companheira de viagem partir para o Brasil e eu pegar o rumo da Índia.

A caminho da Índia faço escala em Abu Dhabi, super cidade dos Emirados Árabes com o aeroporto mais futurista que já vi. Infelizmente, tenho negado o pedido de sair do aeroporto, por exigência de visto, durante a longa escala de cinco horas, mas a vista do alto e o mero colocar de pés na Arábia me dão o direito de incluir este país no meu currículo de países “onde estive”... hehehe.


Depois de tanta espera, às 3h da madrugada começo a cruzar o Mar da Arábia e às 7h30 da manhã pouso em Mumbai. (Mumbai não é mais chamada de Bombaim, pois os indianos estão resgatando os nomes ancestrais das cidades)
Mumbai é a maior cidade da Índia com aproximadamente dezoito milhões de habitantes. Pouco conheço da cidade, mas o que sei é que o caos fez sua capital ali. Muito movimento e uma miséria aparente que expõe as chagas de qualquer grande cidade.

 



Trânsito 'leve' indiano



É muita gente, muito carro, aromas, muitos rickshai, todo tipo de gente, roupas, cores pelas ruas amontoadas de comércios, camelôs, barracas de frutas e tudo que puder ser imaginado.
O trânsito, como em todas as cidades por onde passo, é a base de buzinaço, com o agravante de ser o tráfego em mão inglesa, pela esquerda. Desta forma, aumenta em uns 100% a chance de um atropelamento no meio da multidão de carros.

As pessoas de Mumbai são como de qualquer grande cidade, mais aceleradas, mais impessoais, e senti, em pouco tempo na cidade, por parte de algumas pessoas, certa hostilidade com o turista. O bilheteiro do trem de periferia pergunta se quero bilhete de primeira ou segunda classe. Trem de periferia?? Como assim?! O da estação central de trem deliberadamente se nega a me vender uma passagem na primeira classe e me coloca na (talvez!) quinta classe para viajar com a classe (casta, não sei ainda...) mais baixa em um vagão de bancos de madeira parecidos com os de jardim público, além de me informar a plataforma de embarque errada.
Como em qualquer lugar do mundo tem bicho ruim e também bicho bom, a mão de um "anjo" de plantão me agarra pela mão e me conduz até um assento na classe que pretendia, onde facilmente pago a diferença do bilhete e viajo em paz.


Ainda para balancear o placar entre bonzinhos e malzinhos, após ter pedido uma informação a uma muçulmana de Goa, ela literalmente me pega e percorre comigo toda a plataforma até indicar o exato local.
Como é bom viajar e saber que o mais rico deste planeta são as pessoas e as experiências com elas.




Estátua de Shiva, Ilha Elefanta


 De Mumbai, parto para uma tarde de visita à Ilha Elefanta, distante dez quilômetros de barco pelo litoral, e ali começo a me encantar com as belezas ancestrais da Índia.


Nesta ilha existem cavernas que foram habitadas, por volta do séc. VII d.C., por monges. Porém, o que as cavernas têm em particular é o fato de que foram escavadas e esculpidas à mão ao longo de uma dura laje de duríssimo basalto. Isso mesmo, à mão!!

Caverna da Ilha Elefanta
 No fundo de salas de mais de 400 metros quadrados escavadas artificialmente são encontradas coleções de imagens de Budha, Shiva e cia. ltda, todas também esculpidas manualmente diretamente na rocha.
Para se ter ideia deste improvável feito, me dirijo ao pessoal de Ribeirão Preto e peço que se imaginem no Parque Curupira com uma talhadeira e um martelinho na mão fazendo uma escultura na rocha exposta nos paredões do parque. Pirô legal, né?!?!

 

No fim do dia, volto a Mumbai e pego um trem rumo a Aurangabadi, de onde agora escrevo. 



Cavernas de Ajanta



Chego a uma da madrugada e encontro um belo hoteleco por US$ 10 a diária. Os preços por aqui são irrisórios e uma refeição sai de US$ 0.80 a 1.50.
Estou nesta cidade para conhecer dois conjuntos de cavernas escavadas à mão nos moldes das maravilhosas que conheci na Ilha Elefanta. São Ajanta e Ellora, sendo que uma reúne 29 cavernas e a outra 32.



Budha esculpido em interior de caverna, Ajanta
CHOCROCANTE!!! 


Salas escavadas na rocha de basalto medindo muitas centenas de metros quadrados com simetria inacreditável. Nos tetos e paredes, esculturas entalhadas e pinturas milenares de figuras budistas, hinduístas e jainistas delatando os diversos períodos históricos pelos quais passaram estes locais.









Uma das incríveis cavernas de Ellora


 


No dia seguinte, vivo das maiores experiências de contato humano desta viagem. Peço ao motorista de táxi que me leve a um pequeno vilarejo e ele me leva ao povoado onde vive sua família, e lá tenho um contato direto com este povo incrivelmente maravilhoso.









Um almoço tão especial




Ao chegar à casa do tio do motorista,  um tipo 'mandachuva' do povoado, sou convidado a me sentar no chão e  logo me é servida uma refeição e para demonstrar toda hospitalidade e satisfação pela minha visita todos se sentam à minha volta e ficam me olhando, sem comer. Dizem que, ao ser oferecida uma refeição a um convidado, pede o costume que apenas ele a coma. meio constrangedor, principalmente quando você prova algo que nao gosta tanto...



Depois do almoço, ando pelas estreitas ruas do povoado na companhia de meu motorista e rapidamente viro atração por onde passo.




Recepção sempre calorosa do povo indiano
 

Então, em plena rua, uma dupla de velhos vestidos com roupas muito folclóricas e coloridas me para e canta uma canção para mim ao acompanhamento de instrumentos que nunca antes vira.

 

'Cantador' folclórico
Eles vão de casa em casa cantando e recebendo donativos dos donos das casas, bem ao estilo das Folias de Reis.















Das ruas vou visitar a fazenda da família do motorista (fazenda na Índia tem dimensão de sítio no Brasil), onde passo uma bucólica tarde por entre seus familiares, andando despreocupadamente nas áreas de plantio e sentado debaixo das sombras das árvores frutíferas comendo tamarindo e plum (se diz plamm), uma frutinha deliciosa que estou levando sementes para plantar na florestinha de casa. Certamente, tenho a oportunidade de vivenciar o ritmo rural que embala a vida da imensa maioria dos indianos.


Um lindo dia no campo
Percebo que, com o passar do dia, a essência que busco vai se mostrando ao passo que meu motorista relaxa e, aparentemente, começa a me perceber como um igual, e não como mero turista. Parece que, a partir de um certo momento, percebe que minha viagem não é tão comum como as que está acostumado a acompanhar. "Você é um turista muito diferente de todos os outros", dispara ele antes de me convidar a se sentar debaixo da sombra de uma frondosa mangueira. E pra lá fomos nós e todas as crianças do lugar, seus primos, que não desgrudam de nós um só segundo.

A Índia é basicamente agrária e pelas estradas por onde passo vejo muitas das espécies que cultivamos no Brasil: milho, trigo, manga, goiaba, romã, girassol, algodão,etc. Algumas frutas diferentes, como o tchico, uma espécie de kiwi que tem mais calorias que uma melancia, e o plum, que já mencionei.
Mas o que realmente chama a atenção, por onde passo, é a amabilidade e alegria das pessoas que percebem a minha presença. Espero que as fotos transmitam este sentimento.



Obrigado ao Universo conspirador!!



Agricultora
O que por aqui também chama a atenção são as roupas multicoloridas que as mulheres usam. São os sáris e punjabis que ajudam a tornar as mulheres daqui as mais femininas do mundo. Mesmo as pessoas das classes mais pobres se vestem com uma dignidade contagiante, sempre em trajes impecavelmente limpos que revelam que a higiene pessoal é uma marca deste povo, independente de posses e bens.


Agora estou esperando a partida do ônibus que me levará a Ahmedabad, de onde parto para conhecer as cidades de Udaipur e Jaipur, muito famosas na região do Rajastão. Saio às 17h e chego às 10 da manhã. Por aqui as distâncias se assemelham às do Brasilzão. Aliás, não paro de achar semelhanças entre os dois países.



Viajar por aqui, confesso, é ‘parada pra gente grande’. Muito desconforto, um idioma inglês péssimo de ser compreendido e muuuita adversidade. Bolívia e Peru são fichinha em termos de desconforto se comparado às acomodações, transporte e estradas desta terra. Mas parece que, a quem deseja viajar por esta dimensão, é imposto uma espécie de prova de resistência a ser vencida antes de se ter direito a desfrutar os tesouros escondidos sob este sagrado chão.
Confesso que, por diversos momentos desde que cheguei à Índia, sou constantemente assolado por uma espécie de ansiedade que surge em meus pensamentos sugerindo hipóteses de encurtamento da viagem e para evitar os ‘desnecessários e infortúnios que se impõem. Parece que, então, quando as forças de resistência começam a ser vencidas, verdadeiros manjares dos deuses chegam para renovar as forças e as esperanças e fazer a viagem seguir, e logo na Ilha de Elefanta chegou em minhas mãos parte dos Upanishadis, livros sagrados dos hindus, que falam exatamente que ‘devemos aceitar as vitórias e as derrotas com a mesma passividade e equilíbrio’.
Que assim seja, e que eu tenha as forças necessárias para saborear tudo que me é reservado nestas terras pelos Senhores do Tempo.

O vento sopra, a temperatura é de 30 graus, o sol brilha e a viagem segue. E todos nós no mesmo barco.

A todos os irmãos da lista, obrigado por estarem ao meu lado no mesmo barco.

 








In SHALLA
SALAMI
SALAMALEKO
SHOKRAN
SHUKRIM
NAMASTE
SORTE!!!


AMiLTON


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SonhonOriente - Boletim 7 - Varanasi
Domingo, 22 de Janeiro de 2006 13:41



NAMASTÉ

Meus pustas amigos!!!

Nada como uma semana viajando do outro lado do lado de lá pra ,acumular novidades.
O sonho segue intocável e maravilhoso.
Depois do último boletim percorro uns 1500 km, passo por quatro cidades e, agora, me encontro na penúltima cidade da Índia antes de ir para o Nepal daqui a três dias.



Vista de Udaipur do palácio do marajá
  

Depois de sair de Aurangabadi, pego dois ônibus e viajo por 24 horas para chegar à cidade mais fofinha que conheci por aqui: Udaipur.
Nestes dois dias de viagem, aprendo rapidamente que andar de ônibus na Índia é algo que deve ser feito em ultimísssimo caso, pois as estradas são péssimas e os ônibus piores ainda.

No primeiro trecho da viagem, compro uma passagem de ônibus de ‘um tal de slleper car’. UAU!!, quem nunca ouviu falar em ‘ônibus leito’. Grande notícia, não?! Nem tanto, em se tratando de Índia.
Você entra no ônibus e dois palmos acima das poltronas existem uns pranchões, tipo de cama. Acho o máximo quando vejo a novidade e penso que será a viagem mais agradável da vida, pois, afinal, vou viajar na horizontal.
Porém, as novidades realmente começam a aparecer quando sei que ‘meu super pranchão’ deve ser dividido com alguém de uns 25 kg acima do peso e uns 1,85 m de altura.
A partir daí serão 16 horas de bundas ralado, peidos nada secretos e muita ‘pulação’ dentro do ônibus que tenta (em vão) desviar dos buracos de uma estrada que mais se assemelha ao solo da Lua.


Lavadeiras
Bom, tudo seria parte do esquema Índia de viajar não fosse a novidade do ar condicionado que, depois de tantas horas funcionando em ambiente fechado, (e sabe-se lá há quantos anos sem ter seu filtro limpo!) acaba por comprometer minha já desgastada condição física.
Desço deste ônibus e subo em outro na sequência para completar a jornada de 21 horas com destino a Udaipur.

Ao final de tanto ralo, me encontro completamente esbagaçado, com o moral abaixo de zero, a resistência precária e a velha depre pós-Mumbai querendo voltar à todo momento. Desço do ônibus com o corpo completamente dolorido e uma sensação de febre e gripe forte, típica sensação de quem apanhou de cabo de vassoura.
Derrubado, pego um rickshai e me dirijo ao hotel que seleciono no Lonely Planet. Ao entrar no hotel, me vejo diante do paraíso. É um hotel com estilo da arquitetura dos palácios dos marajás indianos, típicos nesta região do Rajastão. Pela beleza e dimensões do hotel, concluo que o guia errou ao avaliar aquele na categoria ‘super econômico’ e, quando faço menção de me retirar para buscar um mais adequado às minhas condições, o gerente me puxa de canto e me oferece, quase confidencialmente, uma opção de quarto super econômico, única no hotel, pela bagatela de US$ 6.
Depois de quase beijá-lo na boca, me instalo e durmo por quase 6 horas ininterruptas.




'Homem santo', cego e sereno


O hotel tinha um restaurantezinho, e para lá fui ao acordar no princípio da noite. Aliás, este foi um dos motivos de ter escolhido este hotel, pois o fato de ter restaurante facilita a negociação por pratos menos condimentados e, principalmente, apimentados, dica que ganhei de uma experiente mochileira que conheci no caminho, afinal, nesta altura da viagem, meu fígado já anda pedindo água.
No restaurante, sou atendido por um rapaz extremamente atencioso, o qual, vendo a precariedade do meu estado físico se dispõe a mandar preparar uma reforçada canja de galinha quase igual a da mamma. E, adivinhe: sem pimenta. Aqui é pior que Bahia. Os caras colocam toneladas de pimenta em todos os pratos. Pra se ter uma ideia, por aqui se coloca pimenta até em fruta...

Foi, então, neste clima quase familiar, que decido ficar em Udaipur por três dias, um a mais do planejado, e tomo a difícil decisão de cortar Jaipur do roteiro para ter mais tempo para cuidar de minha saúde. E foram estes três dias de muito relax, acordando tarde, tomando sopinha, chazinhos e muita, muita água com limão, que refizeram minhas condições físicas e também, por que não dizer, emocionais.
Nestes dias, frequento as celebrações de um templo hinduísta e ali tomo contato com a prática religiosa dos hindus. Os caras simplesmente sentam no chão em grupo e cantam, cantam e cantam, e alguns dançam... tudo ao som de címbalos, tambores e um tipo de órgão de fole. Não tem sermão, nem discursos apontando verdades absolutas, só música celebrando a vida.

Na porta dos templos ficam sentados homens mendicantes muito velhos. Eles são chamados aqui de sadús, holymen ou homens santos. Eles são pessoas que passaram pelo estágio de apego material em que muitos de nós nos encontramos e, por serem considerados seres de elevada evolução, vivem percorrendo as estradas e cidades de toda Índia aconselhando as pessoas que os alimentam e sustentam. Tive contato com um que disse ter 109 anos. (Não sei se é verdade ou não, mas que ele tinha corpinho de uns 85, isso tinha... hehe)



Interior do palácio do marajá de Udaipur



Ainda em Udaipur, visitei um super palácio da família de marajás mais importante da Índia. Os marajás e rajás comandaram a Índia entre os séc. VII e XX, quando deixaram o poder com a chegada da democracia.
Depois disso, se tornam dos homens mais ricos do mundo e transformam os suntuosos palácios em hotéis para exploração junto ao turismo.
Lembra do Collor, o caçador de marajás? Era sobre esta turma e a suntuosidade de suas vidas que ele se referia.




A noite, vou a uma apresentação de música e dança típica do Rajastão e aí foi lavagem absoluta de alma.


Dança folclórica do Rajastão
 

Depois de três dias em Udaipur, me dirijo de trem direto para Agra, a cidade do Taj Mahal.
Confesso que tinha a sensação que visitar o Taj Mahal seria uma experiência meramente turística e, talvez, até vazia, mas ao olhar de frente esta obra-de-arte fico completamente rendido à beleza do lugar e percebo que esta é, na verdade, uma experiência espiritual.
O prédio de estilo islâmico lembra mais uma mesquita e, apesar de parecer um palácio, é na verdade um túmulo e foi construído por um rei em memória da esposa morta e, por isso, é considerada a maior obra erguida em nome do amor.
Depois de sua morte, o corpo do rei também teve seu corpo ali depositado.




Taj Mahal





O edifício é todo de mármore e tem detalhes estéticos impressionantes que dão a impressão que tamanha paixão acabou se refletindo no incrível resultado da obra. Cada palmo quadrado do túmulo/palácio é ornamentado por pedaços de mármore e pedras semipreciosas incrustadas no mármore. É uma verdadeira jóia.
Detalhe: vinte mil homens foram empregados na construção que durou vinte e dois anos para ser concluída.

Em Agra fico um dia, suficiente para ver o Taj e as famosas lavadeiras de roupa do rio Yamuna e, as duas visitas, resultam em ótimos ensaios fotográficos.

Lavadeiras do Rio Yamuna
De Agra, vivo uma viagem próxima do cômico, pois subo em um trem superlotado e, ao me dirigir ao meu assento, descubro que em meu bilhete não há um número de assento definido.
Isto gera uma grande polêmica entre os passageiros da cabine que me sentaria, e aí começam uma movimentada e engraçada discussão si sobre a minha situação. O mais engraçado é que eu quase não abro a boca enquanto eles debatem ruidosamente sobre os motivos que levaram a aquela situação.
Enquanto a solução não chega, os sensíveis "moradores" da minha cabine me "adotam" e não me deixaram sem banco até a chegada do condutor.
No final, um deles cede seu lugar pra mim dizendo que desceria do trem em duas estações.
Este povo é maravilhoso, não canso jamais de dizer isso...



Banho sagrado na Kumba Mella de Allahabad
Depois de 6 horas de viagem chego a Allahabad por volta das 4 horas da manhã, onde sou obrigado a me instalar no hotel mais caro da cidade e da minha viagem (US$20), pois a cidade está superlotada e o trem chegou muito mais cedo que eu previra. encontro de três rios sagrados: Ganges, Yamuna e Samsarote (acho q é assim).
É que nesta cidade está acontecendo uma das maiores peregrinações sagradas do planeta, a Kumba Mella, e nada menos de 2,5 milhões de pessoas estão na cidade, que fica no
Vim para cá para acompanhar este raro evento que só acontece a cada 12 anos, mas não tinha a menor dimensão das dimensões do evento até chegar na área do encontro dos rios. Milhões de pessoas. Milhares de caravanas chegam de toda a Índia reunindo a maior concentração de homens santos que poderia pedir aos céus para ver. As pessoas chegam a este festival com o objetivo de se banhar nas águas sagradas dos três rios.
Não precisa dizer que acabei em apenas algumas horas com todo o estoque de filmes que havia reservado para os próximos três dias!!
as tb fiz o ensaio mais importante da viagem (eu sempre digo issso, ne, ... pode falar...)



Reunião de 'homens santos'
Foi CHOCRANTISSSS!!!! Ralo legal para estar ali, pego trem superlotado, pago alto pelo hotel, mas a turma lá de cima não deixa eu desviar e acompanho o maior evento que sonharia ver na Índia, só com gente da sacralidade e quase nenhum turista estrangeiro.






EHHHHHHH, é doce mas não é mole!!! 




'Homem santo'
Depois da força da Kumba Mella, chego em uma das mais sagradas cidades da Índia: Varanasi.



À beira do Ganges, é a principal cidade de adoração a Shiva em toda Índia, aquela divindade que adora um caos... uma desordem... aquela que dança em meio ao caos e assim traz a ordem...  


Shiva é a própria Índia.... um caos, e uma ordem sagrada...




É preciso entender Shiva para entender a Índia... quando você acha que não tem mais jeito, surge a pérola... surge a flor de lótus...
HARE HARE SHIVA!!!




Para Varanasi vem sadú de todos os cantos da Índia para morrer, ser cremado e ter as cinzas jogadas no Ganges, sinal de caminhada direta ao Nirvana.
Cenas de homens sentados em meditação à beira do Ganges segurando algumas moedas para pagar pela lenha que queimará seu corpo são correntes nesta cidade.
Estar em Varanasi era meu maior objetivo na Índia...
HARE HARE SHIVA!!!


Todas as manhãs acontecem cenas de adoração ao sol e ao Ganges feitas por sacerdotes logo que surgem os primeiros raios de sol.



Sacerdote celebrando 'Mamma Ganga' ao nascer do sol

  
Nesta hora, centenas de pessoas entram no rio para tomar o primeiro banho do dia, banho considerado sagrado.

Banho matinal sagrado no Rio Ganges




No meu último dia de visita à Índia ainda arrumo tenho tempo para visitar o parque onde ficam os templos onde o Bhuda Shakyamuni fez seu primeiro discurso após atingir a Iluminação.





Stupa que marca local do primeiro discurso do Buddha, Sarnath

Depois, vou para a beira do Ganges e percorro os gats (escadarias) que tanto vi em imagens nos livros e documentários sobre esta terra. Então, acendo velas à ‘Mamma Ganga’,  

Cenas das cremações humanas à beira do Ganges
contrato um barco, subo o rio e sigo para o gat onde acontecem as cremações humanas e ali, durante duas horas, assisto às fortes chama de uma fogueira sagrada consumirem completamente um corpo humano.
Viver esta experiência é, talvez, viver a maior experiência sensorial e espiritual desta vida, é estar diante do mistério da vida e da morte da forma mais crua que é possível. A partir desta experiência, conceitos como permanência e impermanência passam a ser encarados de forma diferente.



Sacerdotes em celebração noturna à vida e à 'Mamma Ganga'
Para completar o jogo, ando 500 metros da área das cremações e me vejo diante de uma (aart) celebração que acontece todas as noites realizada por 10 sacerdotes perfilados que executam uma  
coreográfica cerimônia com uso de incensos, fogo, penas de pavão, entre outros, e homenageia a ‘Mamma Ganga’ e seu potencial criador da vida. Sim, celebrar a vida.
Assim, vida e morte se misturam à paisagem deste sagrado portal indiano



HARE HARE SHIVA!!!



Bem, depois de aproximadamente 4 dias em Varanasi, pego um trem para Gorakhpur, última cidade indiana na fronteira com o Nepal, e de lá um ônibus rumo ao teto do mundo.
Como foi a última viagem dentro da Índia não poderia ter sido 'normal' e, assim, esta também teve direito a superlotação e vómitos vindos da família que dividi o assento.
Ao atravessar a fronteira a pé e entrar em território nepales, confesso que sinto um alívio enorme em deixar a Índia e um pensamento me veio à cabeça: "Não vou nem olhar pra trás, pois da Índia não quero mais do que já tenho". Pareceu o pensamento de alguém que não pensa em voltar tao cedo para estas terras. Em verdade, este pensamento delatava o cansaço acumulado em minha alma um nestas quase 8 semanas de viagem.
Engraçado que este sentimento devia estar tão estampado em meu rosto que um simpático nepales, destes que te abordam para ajudar com os papéis e visto dentrada,   se aproximou, olhou nos meus olhos e sorrindo disse: "Calma, você está no Nepal. Aqui tudo está em paz, não há buzinas. Você saiu da índia". E então, se dispos a me 'ensinar' o que a palavra Índia significa: "I Never Do It Again".
Dei muita risada, relaxei, mas logo me deparei com meu primeiro problema no Nepal. Uma greve geral contra o monarca do país paralisou todas as estradas do país e nenhum ônibus, inclusive o que eu já havia pago antecipadamente (na Índia, claro!), partiria da fronteira nos próximos 2 dias. Um problema e tanto para quem tinha apenas 3 dias de visto.
Então, depois de 'quebrar o pau' na agência de turismo, consigo reaver 80% do valor pago e aí ganho meu primeiro presente no Nepal: viajar por 2 horas lado a lado do impressionante gigante Himalaia, aquele que está sempre mais alto que a altitude do avião e com sua impressionante base imersa em negro abismal infinito... Show!!! Show!!! Show!!!


 
 

Himalaia



Obrigado papai do céu!!

 


Em Katmandu, vivo dias de extrema calmaria, particularmente por contemplar silencioso final de semana de greve geral.
Apesar do exército de prontidão nas ruas, o que mais chamou a atenção foi a hospitalidade e passividade do povo nepalês, risonho, lindinho.




Linda moradora de Katmandu

Katmandu é uma cidade que mistura o tom frenético das grandes capitais com o pacato clima dos ambientes do Himalaia.

Parte da cidade é extremamente antiga e traz prédios com ângulos típicos da arquitetura chinesa.





Centro histórico de Katmandu


Também visito a cidade antiga, próxima a Katmandu, antiga capital dos tempos feudais e que hoje abriga a classe de artesãos do país, uma espécie de 'Embu das Artes oriental'.




Cidade das artes


Aproveito os dias e faço um trekking em um vale do Himalaia, com direito a curtir






amanhecer do sol por entre picos nevados




e circular por aldeias rurais de beleza primitiva.





Stupa budista
Por último, visito templos e Stuppas budistas e acabo presenteado com uma sessão de mantras entoados por monges tibetanos bem ao estilo que já havia presenciado na apresentações patrocinadas pela Pró-Tibet tantos anos antes em Ribeirão Preto.







 

Templo dos Macacos, Katmandu
 







Presente maior impossível!!!



Agora, aguardo a partida de meu avião rumo a Istambul, de onde em dois dias pego um vôo de volta pra casa.

O barco segue, mas a contagem regressiva já começou...
Beijo no coração de todos

 
Buddha Shakyamuni

In Shalla
Salami
Salamaleko
Shokran
Shukria
Shallon
SORTE!!!


AMiLTON




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SonhonOriente - Boletim 8 - Istambul



Queridos Pustas Amigos!!!


Como vêem, dá tempo para mais um último papinho, agora direto de Istambul, a única cidade do planeta que se localiza em dois continentes.
Aqui começou o sonho, e aqui ele se encerra...

Chego ontem depois de uma ‘breve’ viagem de 8h30 desde Nova Delhi, quando sobrevoo o Afeganistão, Irã e Iraque, e claro todo o interior da Turquia.
O visual aéreo dos três países é de um constante deserto cheio de montanhas, igualzinho àquelas imagens que costumamos acompanhar na T.V. nas coberturas sobre a caçada Osama Bin Laden e seus possíveis refúgios.
O visual é chocante e, pouco a pouco, se modifica quando o avião começa a entrar no espaço aéreo da Turquia e, a partir do meio do trajeto, surge neve que, diferente de um mês atrás, agora cobre metade do país.



Istambul nevada

Isto mesmo, muita neve, principalmente na capital Istambul, agora com seu cenário completamente alterado se comparado ao que conheci há 2 meses.
Claro que neve é coisa linda... nos cartões postais e na televisão, porque andar sobre ela é algo bastante desagradável, molha tudo, pode dar tombo e, claro, esfria demais os pés e pode trazer um a qualquer momento um resfriado... ou seja, tem muito pouco de lindo!!
Mas, esta é mais uma surpresa reservada em nossa viagem... e, como dizem os muçulmanos, ALL RRAMD DULELLAH (Eu agradeço o meu Deus!)

Ao chegar em Istambul vou de metrô direto para um hostel que já tinha em mente na primeira passagem pela cidade e fico super orgulhoso de chegar na cidade e já saber onde é o metrô e a estação em que vou descer. Sensação boa de intimidade com o lugar.

Ali divido um quarto com um finlandês de uns 25 anos muito interessante que tem em seu currículo passagens por Omã, Irã, Rússia e, em três dias, passará por Romênia e Iugoslávia.
Também, ele sabe falar russo e já viu a Aurora Boreal , portanto imagine a qualidade dos papos.
Em minha última noite de viagem terei a sua companhia em um giro noturno por Istambul, e o programa não pode ser mais perfeito: conheço o Mercado de especiarias egípcio, um tradicional bazar oriental especializado em especiarias. Os gourmets e chefs de plantão adorariam a visão e o cheiro deste lugar.

Depois vamos dar uma última volta no Grand Bazaar, para em seguida atravessar a ponte sobre o Estreito de Bósforo e deixar o lado europeu rumo ao asiático, onde desfrutamos delicioso prato feito com um peixinho chamado Haisen, a grande sensação da temporada de pesca por estar descendo nesta época aos milhões vindo do Mar Negro rumo ao Mármara.


Depois do agradável jantar, paramos em uma tea house debaixo da ponte entre continentes para um último chá, e ali, ao sabor de suaves baforadas no suave narguele, entremeadas de goles de chá turco e ao sabor de agradável bate-papo, coloco meu olhar sobre a baía que tantos povos viu passar nos últimos milhares de anos. Istambul é uma cidade extremamente charmosa, particularmente a noite, quando suas quase 100 mesquitas ficam pintadas do amarelo dos holofotes e a cidade se espelha nas águas do Bósforo de inúmeros ferryboat  que brincam de correr de um continente a outro.

Nem bem deixo a Ásia... e já sinto saudade.












Amanhã tenho a manhã toda para mim antes de pegar o vôo das 17 horas de volta ao Brasil.
O programa é caminhar sem compromisso pelas ruas e ‘queimar’ as 15 últimas chapas de meu derradeiro filme e, assim, completar as 2000 imagens que levo para juntos compartilharmos.

Mais uma vez, agradeço as mensagens recebidas durante estas oito semanas e, particularmente, o porto seguro que todos vocês foram para mim.
Neste momento, me vem à mente o trecho da música que diz:
"Jogue suas mãos para o céu,
e agradeça se acaso tiver
alguém que você gostaria que
estivesse sempre com você...”

“Ter quem amar, e poder dizer, é antes de tudo um privilégio...”

NAMASTE a todos!!!

Bom saber que a partir de amanhã tudo recomeça de um ponto bem a frente do que ficou há dois meses atrás....


BEIJO NOS CORACÕES


SORTE!!!

AMiLTON




 
 
Amilton Forcinetti - ViajantePassageiro